S. F. Oliveira (2015) Sozinho no Bar 2. http://sozinhonobar2.weebly.com/ ©
Prefácio
Um cotidiano com insônias, leituras, caminhadas, bares e reflexões.
Sim, esse livro pode ser considerado a segunda parte do “Sozinho no Bar”.
Todos os textos aqui apresentados também foram escritos em 2011.
BEIJOS
Os homens eram orientados pelos pais, no caso de relações sexuais com prostitutas, a fazer tudo exceto beijar na boca. Era assim com a minha geração. Provavelmente, depois que a maioria deixou de se preocupar em casar virgem no casamento, isso tenha mudado.
Atualmente, as garotas acham que beijar vários homens numa noite não significaria algo especial, na medida em que não houve uma maior intimidade. Ouvi dizer que nas micaretas - carnavais fora de época -, uma menina chega a beijar mais de 20 rapazes numa noite. Quais seriam os riscos deste comportamento?
Beijar na boca é algo íntimo e a pessoa "acessa" o histórico (sexual, inclusive) do outro no próprio ato. Ouvi uma história, uma vez, que prenderam um necrófilo depois que ele ficou com uma moça numa “boite”, beijando-a, mas sem conseguir levá-la para sua casa. Semanas depois, ela apareceu com feridas na boca e o médico disse que aquilo acontecia somente com mortos. Pelo histórico dela, chegaram a prender o necrófilo e descobriram alguns corpos na sua residência.
Claro que os riscos aumentam quando existe relação sexual sem o uso de preservativos. As campanhas contra a aids ajudaram a conscientizar a população neste sentido. Entretanto, beijar na boca continua sendo divulgado como algo inocente e sem perigo. O amor está associado à emoção e não à razão. Contudo, na medida em que as pessoas já fazem acordos financeiros antes do casamento, talvez já seja hora de verificar a história de alguém que, num futuro próximo, poderá tornar-se mais íntima do ponto de vista sexual.
KAMA SUTRA
Sem a religião não existiria civilização, na medida em que os indivíduos, para viver coletivamente, precisam de regras. Se a lei vem "fora" da sociedade, claro, ela ganha mais força e credibilidade. A norma feita pelo "homem" gera dúvidas e polêmicas, pois favorece um grupo em detrimento de outro.
O sol é essencial para o funcionamento da natureza e, portanto, vital para a existência da humanidade.
No documentário "Zeitgeist", ele é mostrado como a base das religiões criadas pelos indivíduos, o que explicaria a proximidade entre elas. Em outras palavras, a mesma história é contada com nomes diferentes, em épocas e lugares diferentes: "Horus" no Egito Antigo, 3.000 anos antes de Cristo (a. C.), "Mithra" na Pérsia e "Attis" na Grécia, ambos 1.200 anos a.C., "Krishna" na Índia, 900 anos a. C., "Dionysus" na Grécia, 500 anos a. C. e Jesus Cristo no ano 1 de nosso era.
A minha intenção não é falar da religião em si e muito menos se uma estaria certa e a outra errada. O que me interessa, neste assunto, é a forma da construção de um conhecimento e como ele reflete no cotidiano das pessoas. Neste sentido, os livros religiosos são importantes. Parece que o mais antigo é o "I Ching - O Livro da Mutações", com princípios elaborados a 5.000 anos a. C. Atualmente, a Bíblia - 1.500 anos a. C. - e o Corão - 610 anos d. C. - parecem ser os mais aceitos como definidores de leis para o cotidiano dos indivíduos. O 11 de setembro demonstrou que o conflito fundamental, no mundo de hoje, parte destas duas visões de mundo.
Como norma de comportamento, é difícil separar numa obra aquilo que seria religião, filosofia ou política. Nicolau Maquiavel escreveu em 1.532 d. C. o livro "O Príncipe", com conselhos claros de como se manter um governo e de como agir no sentido de manipular as pessoas. Tal sinceridade em nada tem a ver com religião. Sua praticidade o coloca como uma obra clássica para a Ciência Política.
Bem antes de "O Príncipe", foi elaborado o "Kama Sutra" na Índia, "um trabalho de filosofia e sexologia", que apresentava sugestões específicas para a vida de um casal, definindo como deveria ser o papel do marido, da esposa e da amante ("courtesan"). Apesar de ficar conhecido como o "livro do sexo" da Índia, a intenção era que ele não fosse visto "somente como instrumento para satisfação de nossos desejos." (p. 198)
O livro foi traduzido para o inglês, em 1883, por Sir Richard F. Burton. A edição francesa foi traduzida a partir da versão de Burton. O livro ganhou notoriedade depois da década de 1960, ou seja, após a invenção da pílula anticoncepcional e os consequentes movimentos de liberdade sexual e independência da mulher.
Assim como Maquiavel é direto em seus "princípios" para o Príncipe - "e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar" (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra.
COVARDIA
Uma característica marcante do ser humano é a covardia. Para salvar a própria pele, o indivíduo é capaz de tudo. A insensibilidade quanto à dor do outro é apenas uma consequência disto. Lembra o final do filme "Ligações Perigosas", quando, para justificar aquilo que não tem justificativa, seria usada a frase: "it's beyond my control" ("está além do meu controle"). No filme - como na vida - a indiferença nem sempre dá certo. Uma hora a máscara cai e com ela desaba toda a segurança, estabilidade e orgulho...
Um fator que pode desarmar a proteção racional, criada por uma pessoa, seria a emoção. Ela derruba. Ela insiste em ficar fora de controle.
Outro fator seria o inconsciente. O pesadelo é o lugar no qual, nos indivíduos "normais", ele aflora. Fora do sonho, pode ser embaraçoso: é a histeria ou o pânico, algo que constrange mais o outro do que você mesmo. No livro "História da Loucura", de Michel Foucault, um dos motivos da exclusão do louco seria esse:
"Em sua forma mais geral, o internamento se explica ou, em todo caso se justifica, pela vontade de evitar o escândalo." (p. 145)
A covardia se esconde atrás da aparência. Por isso, em nossa sociedade, parecer é bem mais importante do que ser. Quem se omite não aparece como covarde, ao contrário, é mostrado como esperto. A crueldade, nas raras vezes em que é assumida, vem associada à suposta natureza humana: "não posso fazer nada, eu sou assim". A culpa, então, estaria fora dele. O indivíduo, nesta perspectiva, seria somente um objeto do destino. Trata-se da velha história de que alguém tem que fazer o "serviço sujo".
É cômodo pensar assim. É fácil não assumir os próprios atos. É conveniente colocar a culpa no outro. Afinal, tudo isso "está além do seu controle".
VELHOS E JOVENS
Utilizando uma foto de um filme que aparece como casal Jack Nicholson e Amanda Peet (o velho e a jovem - "Alt und Jung"), a Playboy alemã destaca que a maioria, naquele país, considera esse tipo de casal "normal". A foto é usada como ilustração desta idEia, ou seja, o roteiro do filme não é analisado. Nele, existe outro casal - Diane Keaton e Keanee Reeves -, que representaria exatamente o contrário: uma mulher mais velha e um rapaz novo. Se a pessoa não assistir o filme, ela poderá imaginar que ele confirmaria a hipótese inicial, quando acontece o oposto. Trata-se de um mecanismo usado, incorretamente, por um meio de comunicação de massa. Em outras palavras, o machismo ainda é evidente no mundo ocidental. Além disto, existe uma valorização da juventude.
Os executivos, em sua maioria, são homens. Isso explica, em parte, a chamada faixa etária produtiva entre os 20 e 40 anos. Os homens preferem a juventude, pois ela tem o que eles já perderam: muita energia e ingenuidade. Os homens, sobretudo os mais velhos, gostam de garotas jovens. Com o poder do dinheiro e da inteligência - a maioria formou-se há décadas -, eles sentem-se privilegiados diante de garotas cheias de sonhos e sem experiências. Como diria aquele velho executivo de São Paulo, quando indagado se não se sentia desconfortável em sair com moças que só queriam o seu dinheiro: "ainda bem que é assim, pois o que eu tenho é dinheiro mesmo" (e não saúde, beleza ou juventude).
Na empresa, a valorização do jovem segue essa linha de raciocínio. Corinne Maier lembra:
"o jovem, que injeta sangue novo na estrutura, é forçosamente a gema preciosa de uma firma (...) O 'jovem', cujo mérito é não acumular pneus em torno da cintura e usar terno-e-gravata sem a intrusão de gordurinhas inconvenientes, entra no mundo do trabalho de nariz empinado. Ele acha que as palavras 'proativo' e 'benchmarketing' significam alguma coisa, pensa que o sacrossanto comando 'Seja Autônomo!' deve ser levado ao pé da letra, espera ver seus méritos reconhecido se quer... que o adoremos. Ah, a juventude!"
Dificilmente, o jovem acredita que ele não tenha "poderes". Ele acredita que pode tudo, que realizará todos os seus sonhos. Ele enxerga todas as pessoas como instrumentos do seu prazer. Tudo deve girar em torno dele. A autocrítica não existe para a maioria. Não era para ser diferente, na medida em que ele é bajulado na empresa e nas relações amorosas. Ele acredita que tem "o" poder e, pior, acredita que será sempre assim. Como diria a Corinne Maier na citação anterior: "Ah, a juventude!"
Alguns podem questionar se eu não era assim quando tinha 20 anos. A resposta é sim. Contudo, com o tempo e a experiência, resolvi planejar o meu futuro. Sim, eu acreditei que isso seria possível também... Só depois percebi que não se passa dos 40 anos sem graves crises: divórcio, falência, desemprego ou a morte de alguém que era fundamental na sua vida (normalmente, uma pessoa da família).
Diante de tudo isso, para não escolher alternativas negativas - como alcoolismo, loucura, drogas, suicídio ou mesmo presídios ou asilos -, a minha sugestão seria: aproveite a sua faixa etária produtiva para comprar um lugar seu - casa ou apartamento. Em uma entrevista para a revista Trip, o cartunista Angeli deu um depoimento interessante:
"este apartamento é alugado. Comecei a me preocupar com isso recentemente. (...)Não quero ficar velho e não ter nada. (...) [Hoje] acho que poderia ganhar mais... O que não posso é trabalha mais. Trabalho no limite, faço muita coisa. Durmo pouco, umas quatro horas por noite."
É isso. Talvez a minha sugestão e o depoimento sirvam para alguma coisa.
SEDUÇÃO E NOITADA
Encontrado bêbado na porta de casa, o personagem Charlie Harper fala para o irmão: "a noite foi ótima, é essa manhã que está me matando." Sim, as noites são maravilhosas. Tudo fica bonito e divertido. Claro que para isso acontecer, as boites utilizam muitos efeitos de luzes e música bastante alta. Tudo deve ser embalado com doses de vodka, whisky, tequila e/ou cerveja. Alguns tomam energético para aguentar a "balada". Outros ainda usam drogas.
O objetivo, no fim da noite, além de ficar "wasted", é que tudo terminar em sexo. Os homens assumem isso - para eles, pelo menos. As mulheres acham que encontrariam a sua cara metade nestas noitadas. O que faz lembrar aquele velho ditado: "eu não entraria num lugar que me aceitasse como sócio." Em outras palavras, estes ambientes são propícios para qualquer coisa, exceto para uma garota encontrar o seu "príncipe encantando". No final das contas, elas que gostariam de achar o amor, acabam fazendo sexo mesmo.
O filme "Tudo para ficar com ele" ("The sweetest thing"), com a atriz Cameron Diaz, discute de forma bem humorada algumas temáticas deste "jogo" - elas usam esse termo mesmo. De um lado, a garota seduz, beija o rapaz, dá o número do telefone errado e depois vai embora. Do lado do homem, ele fará qualquer coisa para levar a moça, que encontrou na boite, para a cama. Ele falará qualquer coisa e fingirá que está ouvindo tudo o que ela disse, com aquela cara de interessado nos problemas femininos.
No filme, depois de ouvir a personagem da Cameron Diaz desabar, o rapaz fala: "esquece... o que um cara não tem que passar para poder transar?" É esse o jogo, noite após noite. No filme, elas cansam e decidem encontrar "Mr. Right". No fundo, é o que todo mundo deseja, encontrar a sua cara metade e ser feliz. Contudo, as relações de sedução não são simples. Ao invés de encontrar um príncipe, normalmente, no outro dia a mulher se depara com uma ressaca do excesso de bebidas e com um arrependimento de ter ficado com aquele cara - que depois nem a cumprimentará nos lugares. No entanto, novamente, junto com a noite, chega a esperança que desta vez será diferente. Ela acredita nisto pelo simples fato de que não tem outra alternativa, a não ser ficar sozinha.
As pessoas esperam que as noitadas sejam apenas uma fase, que iria até encontrar o seu amado (a), casar, ter filhos e ser feliz para sempre. Entretanto, a vida não funciona assim, pelo menos para a maioria das pessoas. As noitadas podem levar ao alcoolismo e ao vício em drogas. É um risco. O ator Robin Williams passou por isso - alcoolismo e drogas - e, sobre as "baladas", concluiu:
"você percebe que se visse as pessoas com as quais sai à noite durante o dia, elas te matariam de susto. Existem insetos que parecem melhor do que isso."
Afinal, a noite pode seduzir, é o momento perfeito para fantasiar, mas a manhã sempre chega. Fantasia e realidade são coisas diferentes. O próprio ator, Charlie Sheen, que faz o sortudo Charlie Harper - no seriado, mesmo com o alcoolismo e o excesso de mulheres, ele sempre se dá bem -, na vida real, passou por sérios problemas por tentar levar esta vida, inclusive, sendo condenado por uso de drogas e violência contra a mulher.
Em suma, não existem grandes novidades nesta área: as noitadas embaladas com excessos de vinhos e mulheres não são invenção recente. Não são também equivocadas e nem devem ser condenadas. Existem riscos, obviamente. Mas, viver não seria exatamente isso, arriscar até acertar?
RELAÇÃO AMOROSA
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo.
No entanto, ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as joias... Como um fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele.
Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar?
O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres autodenominados racionais.
EVOLUÇÃO E CIRURGIAS PLÁSTICAS
Mesmo considerando as ideias de Darwin importantes, confesso que nunca gostei do conceito de "evolução" associado ao ser humano. Cada indivíduo carrega uma carga genética e a passa para a geração seguinte, com "melhorias" ou não. Da mesma maneira que você recebe, quando nasce, características positivas e negativas, o mesmo processo deve ocorrer com os seus filhos. Se a sua família apresenta um histórico de doença "x", os médicos costuma alertá-lo que isso poderá acontecer com você também. Não é algo que ocorre necessariamente com cada indivíduo, no entanto, as possibilidades seriam maiores.
Antigamente não havia exame de DNA e a infidelidade feminina era punida com a morte - atualmente, as mulheres ainda são apedrejadas no Irã. Assim, o pai sabia que o filho era seu, sobretudo levando em consideração as características físicas da criança. Hoje, é comum ver os adolescentes que fazem várias cirurgias plásticas, inclusive com o uso de silicone. Muitas vezes, a menina que era a cara do pai, é transformada fisicamente em outra pessoa, mudando o nariz, a boa, os seios, entre os partes do corpo. Os garotos querem ser atraentes também e, além das plásticas, tomam anabolizantes para aumentar, de forma artificial e perigosa, a massa muscular.
O problema não é só dos jovens que querem ser atraentes. Os pais incentivam tais atitudes. Por quê? Primeiro, se eles fazem cirurgias plásticas, ficaria difícil censurar os filhos. Segundo, pode ser que um dos dois não casou necessariamente por causa do amor. Isso leva a pessoa, na prática, a odiar o (a) outro (a). Nem sempre é um processo consciente. Não importa. O resultado é que as plásticas nos filhos serviriam para consertar "defeitos" dos pais. O que, antes, poderia ser um elogio - "você é a cara do seu pai ou da sua mãe", agora é visto como crítica.
Mudar a aparência física normalmente não resolve os problemas psicológicos. Em outras palavras, para criticá-lo, a sua mãe pode dizer: "esse comportamento é típico do seu pai." Tal frase pode irritar o filho, mas é, automaticamente, também uma autocrítica da mãe, na medida em que ela revela alguma atitude do marido que não aceita. Michael Jackson não aceitava o pai e, provavelmente, nem a si próprio, tanto que fez inúmeras plásticas para parecer "outra pessoa". La Toya Jackson, sua irmã, seguiu seu exemplo e, no final, ficou parecendo a sua versão feminina - com seios siliconados, "naturalmente"...
Em suma, a "evolução" dos homens atinge cada pessoa individualmente e, ao mesmo tempo, influencia o "desenvolvimento" coletivo - como as máquinas que "ajudam" a humanidade em todas as áreas. No filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço", o que diferenciava o macaco do homem, seria justamente a descoberta de que, com instrumentos adequados, ele poderia enfrentar os outros animais e dominar a natureza, o que garantiria a "evolução".
HOMENS E MULHERES
Freud estava certo em destacar a infância na formação de um indivíduo. Está tudo lá. Gravado na nossa mente. Na maioria das vezes, de maneira inconsciente, claro. Será por que é tão difícil admitir o óbvio?
No mundo ocidental, atualmente, ninguém leva muito a sério nem o machismo nem o feminismo. Existem direitos básicos dos indivíduos que devem ser respeitados e pronto. O problema tornou-se mais específico, ou seja, de cada relação, de cada casal.
Os valores sociais ainda influenciam e alguns temas, como o casamento, permanecem.
Na prática, contudo, as mulheres, nas relações amorosas, têm o mesmo poder que os homens. Isso é fato, apesar de muitos ainda desejarem uma "Amélia" - mulher objeto, na visão machista.
Homens e mulheres, principalmente os mais jovens, querem tudo e acreditam que podem usar todos os meios - mentira, sedução, dinheiro, poder, entre outros - para realizar os seus objetivos. Não leram "O Príncipe", mas são maquiavélicos. Não leram Freud e muitos nunca fizeram terapia. São narcisistas, egoístas e consumistas. Esses adjetivos são aceitos como "normais" na sociedade atual.
Valores como ética e solidariedade são vistos e mostrados como irreais ou usados como mecanismos em relações de poder. A consequência é o cinismo. Todos fingem que acreditam em todos, enquanto os reais interesses não aparecem nas relações. Tudo virou um jogo.
Funciona? Sim, durante algum tempo e em algumas relações. Entretanto, usar tantas "máscaras" pode confundir. De tanto representar vários papéis, o indivíduo começa a ter dificuldade de saber quem ele realmente é. Mais grave, o jogo, depois de algumas fases, fica repetitivo e cansa. As pessoas cansam de você também.
O resultado é a crise. A resposta seria ser diferente... mas como? Você e seus pares sempre agiram assim. Neste ponto, o indivíduo percebe que a crise é mais séria... ou não. Muitos preferem colocar a culpa nos outros e evitar a autocrítica. Pode ser. No entanto, o problema permanece e como um fantasma insiste em "passear" pelos seus pensamentos e pelos seus sonhos.
LOLITA
No século XVII, Molière, ator e autor de peças teatrais, casou com a filha de sua amante. No século XX, foi a vez de Woody Allen casar com a sua filha (adotiva), o que enfureceu a sua ex-esposa, Mia Farrow, e escandalizou os Estados Unidos. Trata-se literalmente da "síndrome de Lolita": o pai ou padrasto dorme com a mãe, mas, de fato, é apaixonado pela filha.
Vladimir Nabokov, autor do livro Lolita, afirma, sobre o livro, que seria "uma infantilidade estudar uma obra de ficção a fim de informar-se sobre um país, uma classe social ou o próprio autor." Ele escreveu a obra em 1955 e a sua publicação gerou polêmicas.
A fantasia deveria ser percebida como tal. Entretanto, os casos de Molière e Woody Allen são reais. Não são os únicos. Historicamente, tais casos devem ser contextualizados de acordo com as regras de cada sociedade, o que não justificaria o princípio do abuso sexual de uma criança, afinal, é uma relação desigual. O limite (moderno) de 18 anos parece razoável no tratamento da questão, mesmo considerando que muitas meninas de 14 ou 15 anos já tenham vidas sexuais ou sejam mães - casadas ou solteiras.
A lei deve ser respeitada. A relação entre um adulto e uma criança é desigual. Se o adulto for o pai ou a mãe, só complica o processo. A instituição família deveria existir como forma de educação e proteção para as crianças. É inconcebível a ideia do inimigo estar lá dentro e ainda se mostrando como o "protetor" aos olhos da comunidade.
POSSESSIVO
Bertrand Russell, em "O Elogio ao Ócio" (Editora Sextante, p. 78), afirma que
"devido à possessividade conjugal, marido e mulher sacrificam com prazer o desejo eventual de uma vida social mais intensa para que o outro não tenha ocasiões de encontrar membros potencialmente perigosos do sexo oposto."
Ele refere-se à época que o homem saia para trabalhar e a esposa era quem cuidava da casa e dos filhos. Isso, porém, mudou, os dois trabalham. Contudo, a possessividade conjugal permaneceu. Muitos casais ainda preferem ficar em casa e não ter uma vida social ativa. No máximo, realizam jantares no lar, convidando outros casais, o que, teoricamente, garantiria a possessividade.
Trata-se de uma ilusão, claro. Não existe segurança de fidelidade em relações amorosas. Neste sentido, o casamento (ou namoro) funciona como a religião: é preciso ter fé, é necessário acreditar no impossível. Sim, porque a fidelidade almejada seria aquela plena, que o parceiro desejasse somente a amada e vice-versa. Por isso, é tão comum perguntas como: você deseja outra pessoa? Se eu morrer, você continuaria me amando? O nosso amor é eterno mesmo? Muitas vezes, essas perguntas levam a discussões intermináveis, a partir de algo totalmente abstrato ou que não aconteceu ainda ("se eu morrer...).
Provavelmente a possessividade tenha a ver com a natureza humana. Certamente, ela faz mais sentido no mundo capitalista, no qual a ideia de posse de algo é tão importante. O problema, na relação amorosa, é que, a princípio, não é algo material. O amor é sentimento, é invisível. Como medir isso? Como ter certeza do amor de outro pessoa? Entre os casais, entre as obviedades, uma interessante é questionar se o outro pensa na pessoa amada durante todo o tempo. Isso seria possível?
Mesmo numa relação amorosa de exclusividade, é normal fantasiar - antes, durante ou depois... O problema é admitir isso sem gerar brigas e polêmicas. Talvez a fantasia mais bizarra seja imaginar que o outro não fantasie... Para não ter uma ejaculação precoce e frustrar a mulher, o homem tem que pensar em algo que corte o seu impulso de orgasmo naquele momento e precisa ser algo nada sexual - como numa cena do filme "Vida de Solteiro" ("Singles").
Por outro lado, fantasia e realidade são coisas diferentes. A fantasia não existe para ser realizada. Ela deveria ficar na imaginação. O perigo é misturar fantasia e realidade. Normalmente, a associação entre estas duas dimensões termina mal. Não me referi ao sonho, que é outra coisa completamente diferente. Os sonhos podem ser bons ou ruins. De qualquer maneira, para Freud, eles tratam dos desejos dos indivíduos.
A possessividade é o avesso do desejo. A pessoa prefere que o companheira seja infeliz do seu lado naquele momento, do que realize o desejo dela com outra pessoa e seja feliz. Neste sentido, a história do "eu só penso no seu prazer" é um mito antigo. O indivíduo parte de si mesmo. A vida em sociedade o obriga a respeitar o outro. Daí vem a ética, o que, basicamente, nos diferencia dos outros animais.
A ORIGEM DA CRISE
O mundo está em crise. Alguns dizem que sempre foi assim. Outros afirmam que tudo seria perfeito, são os alienados.
Diante das crises, o mais simples é negar o óbvio. Como diz aquela personagem do filme "Invasões Bárbaras" (já citada em outro texto), existem indivíduos "que são incapazes de ver a realidade." Tentam viver numa fantasia, criando ilusões, dissimulando, inventando o que não existe, esquecendo rapidamente o passado. Andam nas nuvens. Imaginam que enganam a todos, subestimando, assim, a inteligência dos outros. Sêneca já dizia:
"chegam como pesados fardos aos que se crêem seguros e esperam somente a felicidade."
Quem tenta alertar os alienados, é acusado de ser louco ou pessimista.
É difícil problematizar a alienação, pois ela interessa aos poderosos, é reforçada pelas instituições. Os meios de comunicação de massa, em especial a televisão, ocupam um papel fundamental neste processo.
A alienação pode ser destruída a partir de uma situação grave vivida pelos indivíduos. Funcionaria como um "gatilho" (um agente do FBI associava o "trigger" à fantasia do psicopata).
Quais situações seriam estas? Falência, traição, morte de um familiar, fim do casamento, desemprego... Basicamente, são aquelas situações que os indivíduos imaginam que nunca poderiam acontecer com eles, pois se consideram "especiais", "bons" ou superiores". Esquecem que um dia o "gatilho" aparece e funciona, nem que seja no momento da morte.
Acreditar em paraíso não diminuiu a insegurança e a solidão na hora da morte. Falar não é fato. Dizer que não sente algo, é admitir exatamente o contrário. Fingir que não vê a realidade não impede que a dor seja real.
Não admitir as crises e viver na fantasia é uma escolha de cada um. Sentir a dor da existência não é uma opção, não depende do indivíduo.
Para Schopenhauer, "viver seria sofrer". O esforço para não enxergar a realidade só adia uma dor que é necessária ao ser humano. Sêneca estava certo.
VIDA E SOLIDÃO
Diferente do que muitos pensam, a solidão não é um mal. Muitas pessoas escolhem o isolamento, como a brasileira que viaja sozinha e atravessou o oceano atlântico no seu barco - mostrada no programa "Globo Repórter" (03/06/2011).
Alguns intelectuais e artistas escolhem o silêncio e o isolamento. Existe uma música de Simon & Garfunkel que diz "existem os livros" para proteger o indivíduo. Essa é a teoria de Gore Vidal que afirma que "nunca sentiu solidão pois sempre teve a companhia dele mesmo e de seus livros."
Não existe uma regra geral quanto ao isolamento. Torna-se um problema quando a solidão não é resultado de uma escolha da pessoa. Nesse caso, o que acontece é uma exclusão.
O indivíduo, no geral, teme não ser aceito pelos outros. Assim, se sujeita a várias coisas para manter um contato social, seja casamento, namoro ou amizade. No entanto, esse contato não garante a felicidade. Pode ocorrer o contrário, como um cotidiano de humilhações e agressões. No meio de tudo isso e de tantas pessoas, ele ainda pode se sentir sozinho.
A rejeição causa dor e mágoa. Os sentimentos negativos podem afetar o corpo da pessoa. Isso é conhecido desde o século XIX, quando Jean Martin Charcot percebeu a dificuldade de tratar sintomas associados às mulheres histéricas. Na época,
"os neurologistas buscavam [explicá-los] com base em alguma causa orgânica, sem sucesso. Faziam exames neurológicos e não encontravam nada, nenhum indício de deficiência mental." (Luiz T. O. Lima, Freud - Folha Explica, p. 15)
Aliás, foi a partir do trabalho com Charcot que Freud chegou no método da psicanálise. Desabafar é bom. Falar ajuda. Portanto, muitos recorrem ao processo psicoterápico.
Existe um sentimento que incomoda tanto os solitários como aqueles que vivem rodeados de amigos e familiares. Trata-se do medo. Isso gera doenças. Mas... medo do quê? Medo de se conhecer? Medo do passado? Medo do futuro? Medo da morte? Medo da rejeição? Enfim, medo da solidão?
Identificar o medo não resolve o problema. É necessário conhecer a causa e isso só é possível recorrendo ao próprio passado do indivíduo. Não lembrar do que acontece e não lembrar dos sonhos podem ser um sinal de fuga, de medo. A alienação complica o processo, causando a falta de apetite e a insônia, e o resultado pode tornar-se algo mais grave e levar, por exemplo, a um ataque do coração.
Viver sozinho é complicado. Viver com o outro também não é fácil. Fingir que não existe problema é uma forma de agravar a situação. O melhor é assumir que não existe perfeição e nem respostas absolutas. Assumir os seus desejos e não depender tanto dos outros para ser feliz podem ser alternativas. Cada caso é diferente. Construir o seu caminho, do seu jeito, com erros e acertos, pode ser a melhor saída.
HOMOFOBIA
A decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da igualdade de direitos tanto para casais heterossexuais como homossexuais foi um avanço num país que até 1985 vivia sob censura e ditadura.
A decisão acontece num momento (2011) de ataques de homofobia no Brasil. A questão que fica é: por que a sexualidade (do outro) incomoda tanto? Quando era casada com Richard Gere, Cindy Crawford teve que lidar como este tipo de problema. Ela afirmou:
"Eu respeito totalmente escolha de Richard não dizer, 'Eu não sou gay! Eu não sou gay!' Eu sempre pensei que era muito legal sobre Richard sua atitude ao dizer que não há nada de errado em ser gay." (Playboy, September 1995, p. 55)
Ainda hoje, em alguns países, o homossexualismo é considerado crime. O preconceito é evidente no mundo atual. Mas... sempre foi assim?
Parece que não. Na Grécia Antiga, a relação entre os homens era considerada comum e até "superior" aquela que existiria entre um homem e uma mulher. Michel Foucault (O Cuidado de Si, p. 198-199), analisando as concepções do período, afirmou:
"(...) o amor pelos rapazes é ao mesmo tempo diferente da inclinação pelas mulheres e superior por duas razões: uma, diz respeito à sua respectiva posição em relação à natureza; e a outra, que concerne ao papel desempenhado, em cada um deles, pelo prazer.
Os partidários do amor pelos rapazes fazem uma breve alusão ao argumento frequente que opõe tudo que há de artificial nas mulheres (enfeites e perfumes em umas, navalhas, filtros e pinturas nas mais desavergonhadas), ao natural dos rapazes que são encontrados na palestra. Mas o essencial contra o amor pelas mulheres é que nada mais é do que uma inclinação da natureza."
Na sociedade atual é diferente. A "inclinação da natureza" é ressaltada para defender a relação entre o homem e a mulher como aquela que deve ser adotada. Essa tese é defendida por religiosos e líderes políticos.
Um caso extremo é a postura do político fascista russo Vladimir Zhirinovsky. Diante da afirmação da jornalista Jennifer Gauld de que na Rússia, na época do comunismo, o homossexualismo era considerado crime, Zhirinovsky disse que: "o homossexualismo seria como um 'sputnik' (...) na história da humanidade." Em seguida, resumiu a sua opinião:
"Se as pessoas casam, ou têm relações sexuais assim que desejam, ou não estão isoladas no exército ou em prisões, então, em 100 ou 200 anos, o homossexualismo desapareceria." (Playboy, March 1995, p. 61)
Assim, para Zhirinovsky, o homossexualismo seria resultado de uma conjuntura em que as pessoas não poderiam realizar "naturalmente" os seus desejos sexuais. Alguns religiosos acreditam que o homossexualismo poderia ser "curado" desde que existisse vontade por parte do indivíduo. De fato, trata-se de algo que incomoda.
Jacques Lacan (Livro 20 - Mais, Ainda, p. 37), uma vez, comentou tal incômodo:
"Joguei ano passado com o lapso ortográfico que fiz numa carta endereçada a uma mulher -' jamais saberás o quanto eu tenho te amada '- 'a' em vez de 'o'. Quiseram me apontar depois que aquilo queria talvez dizer que eu era homossexual. Mas o que articulei precisamente no ano passado foi que, 'quando a gente ama, não se trata de sexo'."
Numa série de televisão, os produtores de "Two and Half Men" falaram que o episódio sobre homossexualismo seria um dos preferidos deles, na medida em que lidava com uma questão que incomodaria todos os norte-americanos: ser ou não ser gay.
No episódio, o personagem Charlie Harper, intrigado com a amizade do seu irmão com um divorciado gay, procurou a sua terapeuta e perguntou: "eu poderia ser gay sem saber?" O incômodo era claro. No final do episódio, o seu irmão tentou beijar o divorciado, que disse que ele não era gay. Diante das dúvidas de Alan Harper, o divorciado perguntou: "você sente atração por homem?" Refletindo sobre a sua condição, o irmão de Charlie admitiu a heterossexualidade e ainda ouviu: "it's OK to be straight" (algo como "é correto ser hetero").
Uma frase irônica resumia o debate do episódio. Era defendida, indiretamente, a ideia de que deveria existir liberdade. Portanto, a sexualidade estaria associada ao desejo e não a uma norma social ou a uma época histórica. O fato do personagem que gerou desequilíbrio na família Harper ser um divorciado gay demonstra ainda que essa sexualidade não seria algo pronto e definido. Seria algo em construção, assim como o desenvolvimento do próprio indivíduo.
Isso não significa que alguém deixará necessariamente de ser heterossexual ou não. A palavra chave é o desejo. Afinal, você sente atração por quem? É uma coisa íntima e pessoal, a partir disso, o indivíduo tentará estabelecer uma relação amorosa com o outro.
Em suma, o fundamental não são os rótulos. O que importa é definir a ação com base em três conceitos: amor, desejo e atração. O resultado pode ser aquilo que chamam de felicidade.
CAÇADORES & CAÇADORAS
O macho sai para caçar, cuidando, assim, da sua sobrevivência. Mais do que isso, caçar, inconscientemente, poderia ser percebido como uma afirmação da própria masculinidade. Com a industrialização e a urbanização, caçar animais não fazia mais sentido. No capitalismo, caçar, ou seja, ser útil, passou a ser interpretado como trabalhar. Tradicionalmente, neste contexto, o homem trabalharia e a mulher cuidaria da casa e dos filhos. A masculinidade continuava associada à caça, mas o alvo tornou-se a mulher - não a esposa e sim a "outra". Havia a mulher para casar e as outras. A base do modelo era a virgindade.
Quando a mulher entra no mercado de trabalho, assume direitos políticos e reivindica uma posição de igualdade com o homem, este quadro muda. De "presa", ela torna-se também "caçadora". O mito da virgindade desaparece. A confusão é instalada. O homem fica perdido. A mulher não sabe exatamente o que fazer com a liberdade conquistada, o que explica que algumas tentam repetir as estratégias do homem.
O homem saudosista não consegue mais encontrar a sua "Amélia". Entretanto, ele percebe que se a meta da sua vida deveria ser "caçar", a nova situação era bastante favorável ao seu jogo.
A mulher trabalhava, ia para bares, fumava, bebia, pagava as suas contas e, assim, reivindicava igualdade de direitos. O homem, então, passou a acreditar em outro mito: quanto mais alcoolizada, mais a mulher seria uma "presa" fácil. Portanto, ele sempre poderia ficar com uma diferente toda noite, sem jurar, explicitamente, compromisso. O velho mito que associava a virgindade ao casamento, é interpretado de outra forma: se ela não é virgem, não existe motivo para casar. A canalhice possui uma justificativa.
Do lado da mulher, querer ser como o homem significa entrar num jogo no qual ela é a aprendiz. Ou seja, teria que pagar um alto preço para sair do modelo "dona de casa" e ir para o modelo "independente nos bares". Esse preço tem a ver com os seus desejos de ter filhos e constituir família. Tem a ver ainda com a necessidade de ser desejada pelo homem, que a valoriza no início e a descarta depois.
O casamento ainda existe. O divórcio torna-se mais comum. Os papéis estão confusos nas relações amorosas. Mitos são construídos como se fossem as "novas respostas". No fundo, os problemas são os mesmos: o caos está na condição humana - afetar a relação amorosa seria só a ponta de um iceberg de uma existência que não faz sentido.
PAPO MACHISTA I
As mulheres nos tratam como ratos de laboratório, pois sempre evitamos Discutir a Relação (DR).
Acreditam que basta apertar os botões certos e seguiríamos as suas ordens. Seríamos como fantoches.
Elas elaboram planejamentos sofisticados para atingir objetivos claros (para elas) como monogamia, casamento e filhos.
Se ocorre alguma falha no plano (delas), dizem que "não éramos o que elas esperavam, que, portanto, estariam decepcionadas (aqui nos tratam como adolescentes rebeldes).
Somos observados como "algo em potencial" para realizar alguma coisa, seria necessário utilizar o mecanismo correto - normalmente é o sexo - para ter a sua meta realizada.
Diante deste quadro, ficam chocadas e se sentem vítimas quando simplesmente terminamos a relação.
Sim, ainda seríamos os culpados por "iludi-las" durante tanto tempo.
Dizem que só pensamos em sexo - se for verdade, elas sabem usar isso muito bem (contra nós, claro) - e que não somos sensíveis.
Se reclamamos da vida ou mostramos alguma fragilidade, somos abandonados imediatamente pois elas odeiam "vítimas" e acreditam que deveríamos ser fortes e frios para protegê-las.
Solução? Nenhuma. Podemos apenas sonhar que seria possível viver como o personagem Charlie Harper de "Two and Half Men" e torcer para que, pelo menos uma vez no mês, o programa de domingo não seja almoçar na casa da sogra, tirar uma soneca a tarde e, em seguida, ver Faustão e Fantástico.
PAPO MACHISTA II
Num episódio de Seinfeld, ele e Elaine tentam, sem ser um casal, manter relações sexuais. Não dá certo.
Diante das reclamações de Elaine, Seinfeld pergunta o que ela quer. Ela responde:
"Isso, aquilo e aquela outra coisa também"
É isso. O que uma mulher quer? Simples: ela quer t.u.d.o. e, mesmo assim, reclamará de alguma coisa.
O que fazer? Viver uma relação amorosa é como comprar um pacote completo, ou seja, o que você deseja - a mulher "em si" - não está disponível isoladamente. Existem os cunhados, as sogras, os shows de "ballet", as DRs e as negociações... mas, como uma relação "amorosa" - baseada em sentimento - transformou-se numa competição - um ganha e outro perde?
Quem namorou alguém mais de 2 meses, entende o que quero dizer. Chega um momento em que você faz a pergunta daquela música da Tina Turner: "what's love got to do with it?"
Afinal, depois de um certo tempo, as experiências vividas numa relação podem ter a ver com quase tudo, exceto com o amor. O namoro vira uma empresa, com horários definidos, metas a serem atingidas e punições.
Pela primeira vez, numa relação amorosa (e não no mundo do trabalho), você entende o que Marx e Engels queriam dizer com o "Manifesto do Partido Comunista".
O problema é que você está isolado numa relação desigual (o poder de sedução da mulher é superior). Biologicamente, o seu instinto sexual te transforma em um escravo diante da beleza feminina. Você a deseja mais do que qualquer coisa. Pronto.
"You became a slave to love."
Para finalizar, uma citação que apareceu (claro) na revista Playboy (September 1995, p. 34). A autora é Cynthia Heimel:
"Querido, estou te deixando e serei feminista, e estou levando as crianças comigo e o carro e para você eu deixo pensões altíssimas para cuidar das crianças e você ainda não poderá visitá-las, seu grande idiota, ha ha ha!"*
(*) No original: “Honey, I'm leaving you to find myself and become a feminist, and I'm taking the kids and the car and socking you with tremendous child-support payments and you won't even have visition rights, you big stupid trusting sap, ha ha ha!"
O QUE ACONTECEU COM A MUSA DAQUELE VERÃO?
Na adolescência, qualquer garota fica fascinada com as transformações do seu corpo e, mais ainda, o poder que elas exercem nos homens. Assim, todas as portas se abrem e ela torna-se rapidamente o centro das atenções. Ela quer acreditar que será sempre assim. Mas não será.
Com o passar dos anos, vem a decadência - em várias formas - ou ela, com o poder do dinheiro, torna-se uma "cougar" (mulheres velhas e ricas que se envolvem com rapazes novos), o que não seria diferente do caminho dos homens de meia-idade.
Penso, por exemplo, nas mulheres que foram envolvidas com os Rolling Stones, especialmente com Mick Jagger e Keith Richards. Em 1970, Michele Breton e Anita Pallenberg participaram, com Mick Jagger, do filme "Performance". De acordo com Robert Greenfield, Breton, na época do filme com 17 anos, "cabelo curto e peitos tão grandes que chegam a chocar - junto com Mick e Anita, aparece nua na cena da banheira." Depois de passar décadas como usuária de drogas em vários países, Breton foi encontrada em Berlim em 1995 e disse - ainda de acordo com Greenfield:
"não fiz nada na vida. (...) Onde tudo começou a dar errado? Não consigo me lembrar. É mais ou menos coisa de destino."
Destino ou não, parece que o auge para a mulher acontece só uma vez, na sua juventude. O problema, a partir daí passar a ser a lidar com a vida sem ser o centro das atenções.
O QUE (ALGUNS) HOMENS PENSAM DAS MULHERES
Jerry Seinfeld, uma vez, fez uma brincadeira sobre a reclamação das mulheres de que não existem homens disponíveis: "como? nós estamos em todos os lugares!!" O problema, ele reconhece em seguida, seria que os homens não sabem como chegar e conversar com as mulheres. É verdade.
As mulheres fascinam e exercem um grande poder sobre o sexo oposto. As mulheres são complexas, o que dificulta a situação de qualquer indivíduo. Elas dizem "não", por exemplo, que não quer dizer, necessariamente, "não", pode ser só uma estratégia, um charme. O "não" pode significar "talvez" ou mesmo, se o homem for um pouco inteligente, pode ser, de fato, um "sim".
Como saber? Não existe um manual. Na verdade, cada situação, com cada pessoa, pode mudar tudo. Não existem modelos ou regras. Seria esse o motivo, provavelmente, da atitude masculina machista de sair por aí cantando todas, muitas vezes, de uma maneira óbvia e vulgar, Do ponto de vista do homem, ele pensa: "uma hora pode dar certo." É a velha história: "se ele não for cara de pau, nunca ficará com alguém."
O problema fica mais grave quando a sedução ocorre ao mesmo tempo que as pessoas estão bebendo muitas cervejas ou doses de vodka e whisky. Se for numa boite ou num bar escuro, as coisas ficam mais difíceis. Algumas vezes, ao chegar no local, os homens estabelecem uma hierarquia para a "caça" - desde a mais bonita, a número 1, até aquela que ele, mesmo bêbado, não aceitaria. Claro que com o efeito do [excesso de] álcool, nenhuma teoria poderia se concretizar. Por isso, no final da noite, assistimos cenas deprimentes, tanto para eles como para elas.
A questão não é só a paquera. Aqueles que vivem um relacionamento monogâmico também sofrem para entender os desejos femininos. Aos olhos dos homens, as mulheres nunca estão satisfeitas.
As mulheres gostam de elogios, mas se ficar fácil demais, elas perdem o interesse. Talvez isso explique o sucesso dos chamados "bad boys". Ser um cavalheiro pode ter o efeito oposto à fantasia feminina. Se ele respeita demais, a mulher suspeita que trata-se de um gay. Se for rápido, seria um safado, que faz isso com todas.
Além disto, existem aqueles momentos que os homens não sabem como reagir. Por exemplo, ela começa chorar sem motivo. O que fazer? Seria TPM? Ele teria feito ou dito algo equivocado? Outro coisa seria a famosa DR - Discutir a Relação. Todo homem odeia DR. Faz tudo para fugir de uma. No entanto, raramente consegue. Horas e horas de conversa... O cara pensa: "então, o namoro vai acabar." Claro que não! Pode ser exatamente o contrário... Pode ser um desabafo ou apenas um teste.
Sim, algumas mulheres adoram testar os homens. O objetivo, é difícil dizer, pode ser que elas queiram verificar se eles são fiéis, se estão mentindo, se querem casar ou se elas realmente têm o controle da relação. Muitos se sentem como ratos de laboratório. Basta um olhar da mulher, que ele pára o que está fazendo: "é um sinal... posso fumar? posso beber mais uma? posso jogar futebol com os amigos?" Na dúvida, ele pergunta: "posso?" Ela responde: "você quem sabe." O homem piora a sua situação e para evitar atritos, leia-se DR, deixa de fazer o estava pretendendo.
Talvez as mulheres achem exagerados os exemplos citados. Talvez alguns homens tenham passado por situações semelhantes. Talvez... talvez... Sim, porque não existe uma única resposta que possa satisfazer plenamente um homem e um mulher numa relação. Por isso, muitos mentem, omitem ou fogem de qualquer forma de compromisso.
Contudo, não há como negar: um preciso do outro. Entretanto, qual seria o preço a ser pago para ter uma vida de casal? Será que vale a pena? A minha resposta, pessoal, seria: "eu não faço a mínima ideia."
Eu estive nos três momentos: vida de solteiro, namorando ou casado. Qual seria melhor? Isso, naturalmente, dependerá de cada um.
Viver é lidar com dilemas, dúvidas e problemas. Sozinho ou como casal, a vida não torna-se mais fácil. Trata-se, no final, de uma escolha particular, individual.
O FRACASSO DA RELAÇÃO AMOROSA
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo.
No entanto, como ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as joias... Como um fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele.
Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar?
O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres autodenominados racionais.
COMO CONQUISTAR AS MULHERES?
Em um artigo publicado na internet - http://www.cracked.com/funny-2607-why-women-love-jerks/ - são apresentados os motivos que levariam as mulheres a ficar com os homens "idiotas" ("jerks"): cocaína, álcool, dinheiro, celebridade, poder, músculos e vingança.
Todos os motivos apresentados estão associados a uma única coisa: ilusão. Essas mulheres imaginam que algo do outro realizaria o seu desejo. O que levaria uma garota ficar com um cara que possui uma Ferrari? O carro não é dela. Ela vai passear no carro, "se mostrar" no carro do outro... É uma ilusão, pois ela poderá fazer isso só enquanto durar a relação com esse homem. Provavelmente, o homem que escolhe andar num carro muito caro e da moda, quer aparecer também e, ao mesmo tempo, usar o seu "objeto de desejo" como "isca" para algumas mulheres viverem suas fantasias. Sim, mulheres no plural, pois dificilmente esse tipo de homem, que fez um investimento tão alto, pensaria em ficar apenas com uma mulher. Ele conta com a ilusão dela para realizar a sua própria fantasia: ficar com todas...
O jovem, algumas vezes, fica indignado: como aquele cara conseguiu ficar com aquela menina (e não com ele)? Primeiro, esse tipo de questão representa um atestado de incompetência. Segundo, pode ser um daqueles motivos citados antes (ou não). Terceiro, pode ser um sentimento verdadeiro ou a garota sentiu-se atraída por algo que o jovem da pergunta não possui (ainda): maturidade, por exemplo.
De fato, essas temáticas têm mais a ver com "a idade mental" do indivíduo do que com a sua certidão de nascimento. Em outras palavras, existem homens com mais de 60 anos que ainda acreditam que o dinheiro pode comprar tudo, inclusive "todas" as mulheres. Ser alienado (e viver de ilusão) não está relacionado à idade. Trata-se de uma escolha de cada um, assim como assumir os atos e evitar colocar a culpa no outro para justificar o próprio fracasso.
MULHERES: TIPOS NO CINEMA
Os filmes reforçam mitos em relação às mulheres. Elas são mostradas de uma maneira, quase sempre, simplista. Existe a vingativa, a neurótica, a dominadora e assim por diante.
Escolhi alguns filmes e fiz observações (pessoais) sobre a personagem principal.
ATRAÇÃO FATAL - Carente e sonhadora, não aceita ter tido um caso com um homem casado e deseja o lugar da esposa. Violenta, perde o controle e deseja vingança. O homem infiel - que causou toda a crise - torna-se "vítima" de uma mulher perturbada.
CORPOS ARDENTES - Traí o marido e engana o amante. Fria, consegue o seu objetivo.
BRIGDE JONES - Parece uma mulher comum, meio neurótica, preocupada com o peso, insegura, cujo meta seria encontrar o parceiro ideal.
GUERRA DOS ROSES - Trata-se de uma mulher em crise no casamento e como o que era amor torna-se ódio.
INSTINTO SELVAGEM - Sexy e assassina. Fica com homem, com mulher, cheira cocaína. É escritora. Manipula todos.
LIGAÇÕES PERIGOSAS - Manipula, usa as pessoas como se fossem objetos. É fria. Está interessada só no poder. Fracassa nas suas intenções, mas não muda.
LUA DE FEL - Sexy e vingativa.
NOVE SEMANAS & MEIA DE AMOR - Sexy e carente, ela representa o que todo homem deseja. Está disposta a fazer quase tudo pela paixão.
PERDAS E DANOS - Um trauma familiar a transforma num mulher interessante, complexa, demonstrando, ao mesmo tempo, fragilidade, inteligência e força em seu envolvimento com pai e filho.
SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPE - É uma mulher tipo "Amélia", ingênua, confia no marido, que a traí com a sua irmã.
SWORDFISH - A SENHA - Garota má. Sexy, inteligente e vilã. Livro e sol: a cena do topless sintetiza o seu perfil.
ZANDALEE - Corre para gastar a energia que sobra de um casamento frustrado. Ama o marido, mas o traí com o amigo. Uma tragédia que reforça o sentimento de culpa.
MULHERES DE 30 E HOMENS DE 50 ANOS
No primeiro episódio de "Sex and The City", a personagem principal - Carrie - pergunta: por que existem tantas mulheres maravilhosas solteiras e não existem tanto homens assim? Talvez entre os 15 e 20 anos, a mulher viva seu "auge" no ponto de vista da beleza e da atração em relação aos homens. Lolita é um dos livros que trata do tema: o fascínio que uma adolescente desperta no homem.
Antigamente, com os 15 anos, a menina era apresentada à sociedade em um baile de debutantes. A preocupação da moça era arrumar um bom casamento. As mulheres de "Sex and The City" sonham com isso também, com a diferença que são mais velhas, críticas e independentes do ponto de vista financeiro. A escolha pela carreira profissional dificultaria a realização do sonho do casamento?
Talvez exista muita expectativa em relação ao papel do homem, tradicionalmente apresentado como "um príncipe encantado"... Sobre este tema, a atriz Marília Pêra disse, uma vez, em uma entrevista:
"Ele transa bem? Leva você para comer bons queijos e vinhos? É seu amigo? Então fica com ele. É o máximo que você vai conseguir de um homem."
Os homens passam pela crise da meia-idade, quando chegam aos 50 anos. Querem, de certa forma, fazer o impossível: recuperar a juventude. Assim, compram carros esportes, frequentam academias, namoram mulheres jovens e, atualmente, contam com o Viagra como aliado. Claro que nada disso resolve o inadiável: a velhice... e em seguida, a morte.
As mulheres são lembradas aos 30 anos. Mário Prata, numa crônica na revista Época (Edição 298), cita Balzac - "uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido" e conclui: "são fortes as mulheres de 30. E não têm pressa para nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam."
Os elogios, contudo, não resolvem o essencial: a crise aos 30, para as mulheres, ou aos 50 anos, para os homens. Certamente, os problemas graves de dúvidas pessoais não acontecem apenas nestes momentos. A vida é marcada por dilemas e, como diria Freud, por neuroses. Só não percebe quem é alienado, quem insiste acreditar em fantasias, deixando a realidade de lado. Lembra, claro, o filme Matrix: o indivíduo escolhe entre a pílula azul, a ilusão colorida, ou a pílula vermelha, o real, aquilo que está além das aparências. O real está associado também ao sofrimento. A dor faz parte da vida. As crises existem e pronto. A questão é saber se o indivíduo consegue percebê-las ou não. O mito da caverna de Platão permanece.
CRÍTICAS
Alguém já disse que o crítico é um artista frustrado. Pense. Quem seria mais importante: o crítico de literatura ou o autor da obra?
Antes de escrever textos opinativos (desde 2010), os meus principais trabalhos foram aprovados por duas bancas, uma no mestrado e outra no doutorado. Pesquisei e publiquei livros e artigos.
Tenho a impressão, algumas vezes, que certas pessoas passam boa parte do tempo na Internet só para falar mal de tudo que aparece na tela do computador. Sem dúvida, criticar é mais fácil do que produzir.
Não sou contra cada um expressar a sua opinião, pelo contrário, basta ver a quantidade de blogs que possuo. O problema é que essas pessoas insistem em destacar só o lado negativo de tudo. Parecem ser frustradas por não terem produzido algo relevante ou realizado algum projeto pessoal. Assim, acreditam que tornam-se importantes falando mal de tudo e de todos. A imagem que fica, não percebem, é o exatamente a oposta do que gostariam.
Posso estar errado, mas antes de criticar publicamente uma obra, procurei pesquisar e sistematizar as minhas próprias ideias. Os meus livros e artigos são públicos, estão por aí para serem lidos e criticados.
Prefácio
Um cotidiano com insônias, leituras, caminhadas, bares e reflexões.
Sim, esse livro pode ser considerado a segunda parte do “Sozinho no Bar”.
Todos os textos aqui apresentados também foram escritos em 2011.
BEIJOS
Os homens eram orientados pelos pais, no caso de relações sexuais com prostitutas, a fazer tudo exceto beijar na boca. Era assim com a minha geração. Provavelmente, depois que a maioria deixou de se preocupar em casar virgem no casamento, isso tenha mudado.
Atualmente, as garotas acham que beijar vários homens numa noite não significaria algo especial, na medida em que não houve uma maior intimidade. Ouvi dizer que nas micaretas - carnavais fora de época -, uma menina chega a beijar mais de 20 rapazes numa noite. Quais seriam os riscos deste comportamento?
Beijar na boca é algo íntimo e a pessoa "acessa" o histórico (sexual, inclusive) do outro no próprio ato. Ouvi uma história, uma vez, que prenderam um necrófilo depois que ele ficou com uma moça numa “boite”, beijando-a, mas sem conseguir levá-la para sua casa. Semanas depois, ela apareceu com feridas na boca e o médico disse que aquilo acontecia somente com mortos. Pelo histórico dela, chegaram a prender o necrófilo e descobriram alguns corpos na sua residência.
Claro que os riscos aumentam quando existe relação sexual sem o uso de preservativos. As campanhas contra a aids ajudaram a conscientizar a população neste sentido. Entretanto, beijar na boca continua sendo divulgado como algo inocente e sem perigo. O amor está associado à emoção e não à razão. Contudo, na medida em que as pessoas já fazem acordos financeiros antes do casamento, talvez já seja hora de verificar a história de alguém que, num futuro próximo, poderá tornar-se mais íntima do ponto de vista sexual.
KAMA SUTRA
Sem a religião não existiria civilização, na medida em que os indivíduos, para viver coletivamente, precisam de regras. Se a lei vem "fora" da sociedade, claro, ela ganha mais força e credibilidade. A norma feita pelo "homem" gera dúvidas e polêmicas, pois favorece um grupo em detrimento de outro.
O sol é essencial para o funcionamento da natureza e, portanto, vital para a existência da humanidade.
No documentário "Zeitgeist", ele é mostrado como a base das religiões criadas pelos indivíduos, o que explicaria a proximidade entre elas. Em outras palavras, a mesma história é contada com nomes diferentes, em épocas e lugares diferentes: "Horus" no Egito Antigo, 3.000 anos antes de Cristo (a. C.), "Mithra" na Pérsia e "Attis" na Grécia, ambos 1.200 anos a.C., "Krishna" na Índia, 900 anos a. C., "Dionysus" na Grécia, 500 anos a. C. e Jesus Cristo no ano 1 de nosso era.
A minha intenção não é falar da religião em si e muito menos se uma estaria certa e a outra errada. O que me interessa, neste assunto, é a forma da construção de um conhecimento e como ele reflete no cotidiano das pessoas. Neste sentido, os livros religiosos são importantes. Parece que o mais antigo é o "I Ching - O Livro da Mutações", com princípios elaborados a 5.000 anos a. C. Atualmente, a Bíblia - 1.500 anos a. C. - e o Corão - 610 anos d. C. - parecem ser os mais aceitos como definidores de leis para o cotidiano dos indivíduos. O 11 de setembro demonstrou que o conflito fundamental, no mundo de hoje, parte destas duas visões de mundo.
Como norma de comportamento, é difícil separar numa obra aquilo que seria religião, filosofia ou política. Nicolau Maquiavel escreveu em 1.532 d. C. o livro "O Príncipe", com conselhos claros de como se manter um governo e de como agir no sentido de manipular as pessoas. Tal sinceridade em nada tem a ver com religião. Sua praticidade o coloca como uma obra clássica para a Ciência Política.
Bem antes de "O Príncipe", foi elaborado o "Kama Sutra" na Índia, "um trabalho de filosofia e sexologia", que apresentava sugestões específicas para a vida de um casal, definindo como deveria ser o papel do marido, da esposa e da amante ("courtesan"). Apesar de ficar conhecido como o "livro do sexo" da Índia, a intenção era que ele não fosse visto "somente como instrumento para satisfação de nossos desejos." (p. 198)
O livro foi traduzido para o inglês, em 1883, por Sir Richard F. Burton. A edição francesa foi traduzida a partir da versão de Burton. O livro ganhou notoriedade depois da década de 1960, ou seja, após a invenção da pílula anticoncepcional e os consequentes movimentos de liberdade sexual e independência da mulher.
Assim como Maquiavel é direto em seus "princípios" para o Príncipe - "e são tão simples os homens e tanto obedecem às necessidades presentes, que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar" (p. 122) -, em Kama Sutra existem conselhos desde como os homens podem obter sucesso com as mulheres (p. 122-124) até como a mulher pode perceber, pelo comportamento do seu amante, quando ela deixou de ser importante. (p. 164-165)
As pessoas agem, nas relações sociais, como se tudo fosse natural e espontâneo. Os livros religiosos, filosóficos e políticos demonstram que, ao contrário, desde o início da civilização, sempre houve uma necessidade de se criar normas para seduzir e controlar o outro, seja do ponto de pista particular, de uma relação amorosa, seja do ponto de vista geral, do controle de uma classe social sobre a outra.
COVARDIA
Uma característica marcante do ser humano é a covardia. Para salvar a própria pele, o indivíduo é capaz de tudo. A insensibilidade quanto à dor do outro é apenas uma consequência disto. Lembra o final do filme "Ligações Perigosas", quando, para justificar aquilo que não tem justificativa, seria usada a frase: "it's beyond my control" ("está além do meu controle"). No filme - como na vida - a indiferença nem sempre dá certo. Uma hora a máscara cai e com ela desaba toda a segurança, estabilidade e orgulho...
Um fator que pode desarmar a proteção racional, criada por uma pessoa, seria a emoção. Ela derruba. Ela insiste em ficar fora de controle.
Outro fator seria o inconsciente. O pesadelo é o lugar no qual, nos indivíduos "normais", ele aflora. Fora do sonho, pode ser embaraçoso: é a histeria ou o pânico, algo que constrange mais o outro do que você mesmo. No livro "História da Loucura", de Michel Foucault, um dos motivos da exclusão do louco seria esse:
"Em sua forma mais geral, o internamento se explica ou, em todo caso se justifica, pela vontade de evitar o escândalo." (p. 145)
A covardia se esconde atrás da aparência. Por isso, em nossa sociedade, parecer é bem mais importante do que ser. Quem se omite não aparece como covarde, ao contrário, é mostrado como esperto. A crueldade, nas raras vezes em que é assumida, vem associada à suposta natureza humana: "não posso fazer nada, eu sou assim". A culpa, então, estaria fora dele. O indivíduo, nesta perspectiva, seria somente um objeto do destino. Trata-se da velha história de que alguém tem que fazer o "serviço sujo".
É cômodo pensar assim. É fácil não assumir os próprios atos. É conveniente colocar a culpa no outro. Afinal, tudo isso "está além do seu controle".
VELHOS E JOVENS
Utilizando uma foto de um filme que aparece como casal Jack Nicholson e Amanda Peet (o velho e a jovem - "Alt und Jung"), a Playboy alemã destaca que a maioria, naquele país, considera esse tipo de casal "normal". A foto é usada como ilustração desta idEia, ou seja, o roteiro do filme não é analisado. Nele, existe outro casal - Diane Keaton e Keanee Reeves -, que representaria exatamente o contrário: uma mulher mais velha e um rapaz novo. Se a pessoa não assistir o filme, ela poderá imaginar que ele confirmaria a hipótese inicial, quando acontece o oposto. Trata-se de um mecanismo usado, incorretamente, por um meio de comunicação de massa. Em outras palavras, o machismo ainda é evidente no mundo ocidental. Além disto, existe uma valorização da juventude.
Os executivos, em sua maioria, são homens. Isso explica, em parte, a chamada faixa etária produtiva entre os 20 e 40 anos. Os homens preferem a juventude, pois ela tem o que eles já perderam: muita energia e ingenuidade. Os homens, sobretudo os mais velhos, gostam de garotas jovens. Com o poder do dinheiro e da inteligência - a maioria formou-se há décadas -, eles sentem-se privilegiados diante de garotas cheias de sonhos e sem experiências. Como diria aquele velho executivo de São Paulo, quando indagado se não se sentia desconfortável em sair com moças que só queriam o seu dinheiro: "ainda bem que é assim, pois o que eu tenho é dinheiro mesmo" (e não saúde, beleza ou juventude).
Na empresa, a valorização do jovem segue essa linha de raciocínio. Corinne Maier lembra:
"o jovem, que injeta sangue novo na estrutura, é forçosamente a gema preciosa de uma firma (...) O 'jovem', cujo mérito é não acumular pneus em torno da cintura e usar terno-e-gravata sem a intrusão de gordurinhas inconvenientes, entra no mundo do trabalho de nariz empinado. Ele acha que as palavras 'proativo' e 'benchmarketing' significam alguma coisa, pensa que o sacrossanto comando 'Seja Autônomo!' deve ser levado ao pé da letra, espera ver seus méritos reconhecido se quer... que o adoremos. Ah, a juventude!"
Dificilmente, o jovem acredita que ele não tenha "poderes". Ele acredita que pode tudo, que realizará todos os seus sonhos. Ele enxerga todas as pessoas como instrumentos do seu prazer. Tudo deve girar em torno dele. A autocrítica não existe para a maioria. Não era para ser diferente, na medida em que ele é bajulado na empresa e nas relações amorosas. Ele acredita que tem "o" poder e, pior, acredita que será sempre assim. Como diria a Corinne Maier na citação anterior: "Ah, a juventude!"
Alguns podem questionar se eu não era assim quando tinha 20 anos. A resposta é sim. Contudo, com o tempo e a experiência, resolvi planejar o meu futuro. Sim, eu acreditei que isso seria possível também... Só depois percebi que não se passa dos 40 anos sem graves crises: divórcio, falência, desemprego ou a morte de alguém que era fundamental na sua vida (normalmente, uma pessoa da família).
Diante de tudo isso, para não escolher alternativas negativas - como alcoolismo, loucura, drogas, suicídio ou mesmo presídios ou asilos -, a minha sugestão seria: aproveite a sua faixa etária produtiva para comprar um lugar seu - casa ou apartamento. Em uma entrevista para a revista Trip, o cartunista Angeli deu um depoimento interessante:
"este apartamento é alugado. Comecei a me preocupar com isso recentemente. (...)Não quero ficar velho e não ter nada. (...) [Hoje] acho que poderia ganhar mais... O que não posso é trabalha mais. Trabalho no limite, faço muita coisa. Durmo pouco, umas quatro horas por noite."
É isso. Talvez a minha sugestão e o depoimento sirvam para alguma coisa.
SEDUÇÃO E NOITADA
Encontrado bêbado na porta de casa, o personagem Charlie Harper fala para o irmão: "a noite foi ótima, é essa manhã que está me matando." Sim, as noites são maravilhosas. Tudo fica bonito e divertido. Claro que para isso acontecer, as boites utilizam muitos efeitos de luzes e música bastante alta. Tudo deve ser embalado com doses de vodka, whisky, tequila e/ou cerveja. Alguns tomam energético para aguentar a "balada". Outros ainda usam drogas.
O objetivo, no fim da noite, além de ficar "wasted", é que tudo terminar em sexo. Os homens assumem isso - para eles, pelo menos. As mulheres acham que encontrariam a sua cara metade nestas noitadas. O que faz lembrar aquele velho ditado: "eu não entraria num lugar que me aceitasse como sócio." Em outras palavras, estes ambientes são propícios para qualquer coisa, exceto para uma garota encontrar o seu "príncipe encantando". No final das contas, elas que gostariam de achar o amor, acabam fazendo sexo mesmo.
O filme "Tudo para ficar com ele" ("The sweetest thing"), com a atriz Cameron Diaz, discute de forma bem humorada algumas temáticas deste "jogo" - elas usam esse termo mesmo. De um lado, a garota seduz, beija o rapaz, dá o número do telefone errado e depois vai embora. Do lado do homem, ele fará qualquer coisa para levar a moça, que encontrou na boite, para a cama. Ele falará qualquer coisa e fingirá que está ouvindo tudo o que ela disse, com aquela cara de interessado nos problemas femininos.
No filme, depois de ouvir a personagem da Cameron Diaz desabar, o rapaz fala: "esquece... o que um cara não tem que passar para poder transar?" É esse o jogo, noite após noite. No filme, elas cansam e decidem encontrar "Mr. Right". No fundo, é o que todo mundo deseja, encontrar a sua cara metade e ser feliz. Contudo, as relações de sedução não são simples. Ao invés de encontrar um príncipe, normalmente, no outro dia a mulher se depara com uma ressaca do excesso de bebidas e com um arrependimento de ter ficado com aquele cara - que depois nem a cumprimentará nos lugares. No entanto, novamente, junto com a noite, chega a esperança que desta vez será diferente. Ela acredita nisto pelo simples fato de que não tem outra alternativa, a não ser ficar sozinha.
As pessoas esperam que as noitadas sejam apenas uma fase, que iria até encontrar o seu amado (a), casar, ter filhos e ser feliz para sempre. Entretanto, a vida não funciona assim, pelo menos para a maioria das pessoas. As noitadas podem levar ao alcoolismo e ao vício em drogas. É um risco. O ator Robin Williams passou por isso - alcoolismo e drogas - e, sobre as "baladas", concluiu:
"você percebe que se visse as pessoas com as quais sai à noite durante o dia, elas te matariam de susto. Existem insetos que parecem melhor do que isso."
Afinal, a noite pode seduzir, é o momento perfeito para fantasiar, mas a manhã sempre chega. Fantasia e realidade são coisas diferentes. O próprio ator, Charlie Sheen, que faz o sortudo Charlie Harper - no seriado, mesmo com o alcoolismo e o excesso de mulheres, ele sempre se dá bem -, na vida real, passou por sérios problemas por tentar levar esta vida, inclusive, sendo condenado por uso de drogas e violência contra a mulher.
Em suma, não existem grandes novidades nesta área: as noitadas embaladas com excessos de vinhos e mulheres não são invenção recente. Não são também equivocadas e nem devem ser condenadas. Existem riscos, obviamente. Mas, viver não seria exatamente isso, arriscar até acertar?
RELAÇÃO AMOROSA
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo.
No entanto, ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as joias... Como um fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele.
Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar?
O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres autodenominados racionais.
EVOLUÇÃO E CIRURGIAS PLÁSTICAS
Mesmo considerando as ideias de Darwin importantes, confesso que nunca gostei do conceito de "evolução" associado ao ser humano. Cada indivíduo carrega uma carga genética e a passa para a geração seguinte, com "melhorias" ou não. Da mesma maneira que você recebe, quando nasce, características positivas e negativas, o mesmo processo deve ocorrer com os seus filhos. Se a sua família apresenta um histórico de doença "x", os médicos costuma alertá-lo que isso poderá acontecer com você também. Não é algo que ocorre necessariamente com cada indivíduo, no entanto, as possibilidades seriam maiores.
Antigamente não havia exame de DNA e a infidelidade feminina era punida com a morte - atualmente, as mulheres ainda são apedrejadas no Irã. Assim, o pai sabia que o filho era seu, sobretudo levando em consideração as características físicas da criança. Hoje, é comum ver os adolescentes que fazem várias cirurgias plásticas, inclusive com o uso de silicone. Muitas vezes, a menina que era a cara do pai, é transformada fisicamente em outra pessoa, mudando o nariz, a boa, os seios, entre os partes do corpo. Os garotos querem ser atraentes também e, além das plásticas, tomam anabolizantes para aumentar, de forma artificial e perigosa, a massa muscular.
O problema não é só dos jovens que querem ser atraentes. Os pais incentivam tais atitudes. Por quê? Primeiro, se eles fazem cirurgias plásticas, ficaria difícil censurar os filhos. Segundo, pode ser que um dos dois não casou necessariamente por causa do amor. Isso leva a pessoa, na prática, a odiar o (a) outro (a). Nem sempre é um processo consciente. Não importa. O resultado é que as plásticas nos filhos serviriam para consertar "defeitos" dos pais. O que, antes, poderia ser um elogio - "você é a cara do seu pai ou da sua mãe", agora é visto como crítica.
Mudar a aparência física normalmente não resolve os problemas psicológicos. Em outras palavras, para criticá-lo, a sua mãe pode dizer: "esse comportamento é típico do seu pai." Tal frase pode irritar o filho, mas é, automaticamente, também uma autocrítica da mãe, na medida em que ela revela alguma atitude do marido que não aceita. Michael Jackson não aceitava o pai e, provavelmente, nem a si próprio, tanto que fez inúmeras plásticas para parecer "outra pessoa". La Toya Jackson, sua irmã, seguiu seu exemplo e, no final, ficou parecendo a sua versão feminina - com seios siliconados, "naturalmente"...
Em suma, a "evolução" dos homens atinge cada pessoa individualmente e, ao mesmo tempo, influencia o "desenvolvimento" coletivo - como as máquinas que "ajudam" a humanidade em todas as áreas. No filme "2001 - Uma Odisséia no Espaço", o que diferenciava o macaco do homem, seria justamente a descoberta de que, com instrumentos adequados, ele poderia enfrentar os outros animais e dominar a natureza, o que garantiria a "evolução".
HOMENS E MULHERES
Freud estava certo em destacar a infância na formação de um indivíduo. Está tudo lá. Gravado na nossa mente. Na maioria das vezes, de maneira inconsciente, claro. Será por que é tão difícil admitir o óbvio?
No mundo ocidental, atualmente, ninguém leva muito a sério nem o machismo nem o feminismo. Existem direitos básicos dos indivíduos que devem ser respeitados e pronto. O problema tornou-se mais específico, ou seja, de cada relação, de cada casal.
Os valores sociais ainda influenciam e alguns temas, como o casamento, permanecem.
Na prática, contudo, as mulheres, nas relações amorosas, têm o mesmo poder que os homens. Isso é fato, apesar de muitos ainda desejarem uma "Amélia" - mulher objeto, na visão machista.
Homens e mulheres, principalmente os mais jovens, querem tudo e acreditam que podem usar todos os meios - mentira, sedução, dinheiro, poder, entre outros - para realizar os seus objetivos. Não leram "O Príncipe", mas são maquiavélicos. Não leram Freud e muitos nunca fizeram terapia. São narcisistas, egoístas e consumistas. Esses adjetivos são aceitos como "normais" na sociedade atual.
Valores como ética e solidariedade são vistos e mostrados como irreais ou usados como mecanismos em relações de poder. A consequência é o cinismo. Todos fingem que acreditam em todos, enquanto os reais interesses não aparecem nas relações. Tudo virou um jogo.
Funciona? Sim, durante algum tempo e em algumas relações. Entretanto, usar tantas "máscaras" pode confundir. De tanto representar vários papéis, o indivíduo começa a ter dificuldade de saber quem ele realmente é. Mais grave, o jogo, depois de algumas fases, fica repetitivo e cansa. As pessoas cansam de você também.
O resultado é a crise. A resposta seria ser diferente... mas como? Você e seus pares sempre agiram assim. Neste ponto, o indivíduo percebe que a crise é mais séria... ou não. Muitos preferem colocar a culpa nos outros e evitar a autocrítica. Pode ser. No entanto, o problema permanece e como um fantasma insiste em "passear" pelos seus pensamentos e pelos seus sonhos.
LOLITA
No século XVII, Molière, ator e autor de peças teatrais, casou com a filha de sua amante. No século XX, foi a vez de Woody Allen casar com a sua filha (adotiva), o que enfureceu a sua ex-esposa, Mia Farrow, e escandalizou os Estados Unidos. Trata-se literalmente da "síndrome de Lolita": o pai ou padrasto dorme com a mãe, mas, de fato, é apaixonado pela filha.
Vladimir Nabokov, autor do livro Lolita, afirma, sobre o livro, que seria "uma infantilidade estudar uma obra de ficção a fim de informar-se sobre um país, uma classe social ou o próprio autor." Ele escreveu a obra em 1955 e a sua publicação gerou polêmicas.
A fantasia deveria ser percebida como tal. Entretanto, os casos de Molière e Woody Allen são reais. Não são os únicos. Historicamente, tais casos devem ser contextualizados de acordo com as regras de cada sociedade, o que não justificaria o princípio do abuso sexual de uma criança, afinal, é uma relação desigual. O limite (moderno) de 18 anos parece razoável no tratamento da questão, mesmo considerando que muitas meninas de 14 ou 15 anos já tenham vidas sexuais ou sejam mães - casadas ou solteiras.
A lei deve ser respeitada. A relação entre um adulto e uma criança é desigual. Se o adulto for o pai ou a mãe, só complica o processo. A instituição família deveria existir como forma de educação e proteção para as crianças. É inconcebível a ideia do inimigo estar lá dentro e ainda se mostrando como o "protetor" aos olhos da comunidade.
POSSESSIVO
Bertrand Russell, em "O Elogio ao Ócio" (Editora Sextante, p. 78), afirma que
"devido à possessividade conjugal, marido e mulher sacrificam com prazer o desejo eventual de uma vida social mais intensa para que o outro não tenha ocasiões de encontrar membros potencialmente perigosos do sexo oposto."
Ele refere-se à época que o homem saia para trabalhar e a esposa era quem cuidava da casa e dos filhos. Isso, porém, mudou, os dois trabalham. Contudo, a possessividade conjugal permaneceu. Muitos casais ainda preferem ficar em casa e não ter uma vida social ativa. No máximo, realizam jantares no lar, convidando outros casais, o que, teoricamente, garantiria a possessividade.
Trata-se de uma ilusão, claro. Não existe segurança de fidelidade em relações amorosas. Neste sentido, o casamento (ou namoro) funciona como a religião: é preciso ter fé, é necessário acreditar no impossível. Sim, porque a fidelidade almejada seria aquela plena, que o parceiro desejasse somente a amada e vice-versa. Por isso, é tão comum perguntas como: você deseja outra pessoa? Se eu morrer, você continuaria me amando? O nosso amor é eterno mesmo? Muitas vezes, essas perguntas levam a discussões intermináveis, a partir de algo totalmente abstrato ou que não aconteceu ainda ("se eu morrer...).
Provavelmente a possessividade tenha a ver com a natureza humana. Certamente, ela faz mais sentido no mundo capitalista, no qual a ideia de posse de algo é tão importante. O problema, na relação amorosa, é que, a princípio, não é algo material. O amor é sentimento, é invisível. Como medir isso? Como ter certeza do amor de outro pessoa? Entre os casais, entre as obviedades, uma interessante é questionar se o outro pensa na pessoa amada durante todo o tempo. Isso seria possível?
Mesmo numa relação amorosa de exclusividade, é normal fantasiar - antes, durante ou depois... O problema é admitir isso sem gerar brigas e polêmicas. Talvez a fantasia mais bizarra seja imaginar que o outro não fantasie... Para não ter uma ejaculação precoce e frustrar a mulher, o homem tem que pensar em algo que corte o seu impulso de orgasmo naquele momento e precisa ser algo nada sexual - como numa cena do filme "Vida de Solteiro" ("Singles").
Por outro lado, fantasia e realidade são coisas diferentes. A fantasia não existe para ser realizada. Ela deveria ficar na imaginação. O perigo é misturar fantasia e realidade. Normalmente, a associação entre estas duas dimensões termina mal. Não me referi ao sonho, que é outra coisa completamente diferente. Os sonhos podem ser bons ou ruins. De qualquer maneira, para Freud, eles tratam dos desejos dos indivíduos.
A possessividade é o avesso do desejo. A pessoa prefere que o companheira seja infeliz do seu lado naquele momento, do que realize o desejo dela com outra pessoa e seja feliz. Neste sentido, a história do "eu só penso no seu prazer" é um mito antigo. O indivíduo parte de si mesmo. A vida em sociedade o obriga a respeitar o outro. Daí vem a ética, o que, basicamente, nos diferencia dos outros animais.
A ORIGEM DA CRISE
O mundo está em crise. Alguns dizem que sempre foi assim. Outros afirmam que tudo seria perfeito, são os alienados.
Diante das crises, o mais simples é negar o óbvio. Como diz aquela personagem do filme "Invasões Bárbaras" (já citada em outro texto), existem indivíduos "que são incapazes de ver a realidade." Tentam viver numa fantasia, criando ilusões, dissimulando, inventando o que não existe, esquecendo rapidamente o passado. Andam nas nuvens. Imaginam que enganam a todos, subestimando, assim, a inteligência dos outros. Sêneca já dizia:
"chegam como pesados fardos aos que se crêem seguros e esperam somente a felicidade."
Quem tenta alertar os alienados, é acusado de ser louco ou pessimista.
É difícil problematizar a alienação, pois ela interessa aos poderosos, é reforçada pelas instituições. Os meios de comunicação de massa, em especial a televisão, ocupam um papel fundamental neste processo.
A alienação pode ser destruída a partir de uma situação grave vivida pelos indivíduos. Funcionaria como um "gatilho" (um agente do FBI associava o "trigger" à fantasia do psicopata).
Quais situações seriam estas? Falência, traição, morte de um familiar, fim do casamento, desemprego... Basicamente, são aquelas situações que os indivíduos imaginam que nunca poderiam acontecer com eles, pois se consideram "especiais", "bons" ou superiores". Esquecem que um dia o "gatilho" aparece e funciona, nem que seja no momento da morte.
Acreditar em paraíso não diminuiu a insegurança e a solidão na hora da morte. Falar não é fato. Dizer que não sente algo, é admitir exatamente o contrário. Fingir que não vê a realidade não impede que a dor seja real.
Não admitir as crises e viver na fantasia é uma escolha de cada um. Sentir a dor da existência não é uma opção, não depende do indivíduo.
Para Schopenhauer, "viver seria sofrer". O esforço para não enxergar a realidade só adia uma dor que é necessária ao ser humano. Sêneca estava certo.
VIDA E SOLIDÃO
Diferente do que muitos pensam, a solidão não é um mal. Muitas pessoas escolhem o isolamento, como a brasileira que viaja sozinha e atravessou o oceano atlântico no seu barco - mostrada no programa "Globo Repórter" (03/06/2011).
Alguns intelectuais e artistas escolhem o silêncio e o isolamento. Existe uma música de Simon & Garfunkel que diz "existem os livros" para proteger o indivíduo. Essa é a teoria de Gore Vidal que afirma que "nunca sentiu solidão pois sempre teve a companhia dele mesmo e de seus livros."
Não existe uma regra geral quanto ao isolamento. Torna-se um problema quando a solidão não é resultado de uma escolha da pessoa. Nesse caso, o que acontece é uma exclusão.
O indivíduo, no geral, teme não ser aceito pelos outros. Assim, se sujeita a várias coisas para manter um contato social, seja casamento, namoro ou amizade. No entanto, esse contato não garante a felicidade. Pode ocorrer o contrário, como um cotidiano de humilhações e agressões. No meio de tudo isso e de tantas pessoas, ele ainda pode se sentir sozinho.
A rejeição causa dor e mágoa. Os sentimentos negativos podem afetar o corpo da pessoa. Isso é conhecido desde o século XIX, quando Jean Martin Charcot percebeu a dificuldade de tratar sintomas associados às mulheres histéricas. Na época,
"os neurologistas buscavam [explicá-los] com base em alguma causa orgânica, sem sucesso. Faziam exames neurológicos e não encontravam nada, nenhum indício de deficiência mental." (Luiz T. O. Lima, Freud - Folha Explica, p. 15)
Aliás, foi a partir do trabalho com Charcot que Freud chegou no método da psicanálise. Desabafar é bom. Falar ajuda. Portanto, muitos recorrem ao processo psicoterápico.
Existe um sentimento que incomoda tanto os solitários como aqueles que vivem rodeados de amigos e familiares. Trata-se do medo. Isso gera doenças. Mas... medo do quê? Medo de se conhecer? Medo do passado? Medo do futuro? Medo da morte? Medo da rejeição? Enfim, medo da solidão?
Identificar o medo não resolve o problema. É necessário conhecer a causa e isso só é possível recorrendo ao próprio passado do indivíduo. Não lembrar do que acontece e não lembrar dos sonhos podem ser um sinal de fuga, de medo. A alienação complica o processo, causando a falta de apetite e a insônia, e o resultado pode tornar-se algo mais grave e levar, por exemplo, a um ataque do coração.
Viver sozinho é complicado. Viver com o outro também não é fácil. Fingir que não existe problema é uma forma de agravar a situação. O melhor é assumir que não existe perfeição e nem respostas absolutas. Assumir os seus desejos e não depender tanto dos outros para ser feliz podem ser alternativas. Cada caso é diferente. Construir o seu caminho, do seu jeito, com erros e acertos, pode ser a melhor saída.
HOMOFOBIA
A decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da igualdade de direitos tanto para casais heterossexuais como homossexuais foi um avanço num país que até 1985 vivia sob censura e ditadura.
A decisão acontece num momento (2011) de ataques de homofobia no Brasil. A questão que fica é: por que a sexualidade (do outro) incomoda tanto? Quando era casada com Richard Gere, Cindy Crawford teve que lidar como este tipo de problema. Ela afirmou:
"Eu respeito totalmente escolha de Richard não dizer, 'Eu não sou gay! Eu não sou gay!' Eu sempre pensei que era muito legal sobre Richard sua atitude ao dizer que não há nada de errado em ser gay." (Playboy, September 1995, p. 55)
Ainda hoje, em alguns países, o homossexualismo é considerado crime. O preconceito é evidente no mundo atual. Mas... sempre foi assim?
Parece que não. Na Grécia Antiga, a relação entre os homens era considerada comum e até "superior" aquela que existiria entre um homem e uma mulher. Michel Foucault (O Cuidado de Si, p. 198-199), analisando as concepções do período, afirmou:
"(...) o amor pelos rapazes é ao mesmo tempo diferente da inclinação pelas mulheres e superior por duas razões: uma, diz respeito à sua respectiva posição em relação à natureza; e a outra, que concerne ao papel desempenhado, em cada um deles, pelo prazer.
Os partidários do amor pelos rapazes fazem uma breve alusão ao argumento frequente que opõe tudo que há de artificial nas mulheres (enfeites e perfumes em umas, navalhas, filtros e pinturas nas mais desavergonhadas), ao natural dos rapazes que são encontrados na palestra. Mas o essencial contra o amor pelas mulheres é que nada mais é do que uma inclinação da natureza."
Na sociedade atual é diferente. A "inclinação da natureza" é ressaltada para defender a relação entre o homem e a mulher como aquela que deve ser adotada. Essa tese é defendida por religiosos e líderes políticos.
Um caso extremo é a postura do político fascista russo Vladimir Zhirinovsky. Diante da afirmação da jornalista Jennifer Gauld de que na Rússia, na época do comunismo, o homossexualismo era considerado crime, Zhirinovsky disse que: "o homossexualismo seria como um 'sputnik' (...) na história da humanidade." Em seguida, resumiu a sua opinião:
"Se as pessoas casam, ou têm relações sexuais assim que desejam, ou não estão isoladas no exército ou em prisões, então, em 100 ou 200 anos, o homossexualismo desapareceria." (Playboy, March 1995, p. 61)
Assim, para Zhirinovsky, o homossexualismo seria resultado de uma conjuntura em que as pessoas não poderiam realizar "naturalmente" os seus desejos sexuais. Alguns religiosos acreditam que o homossexualismo poderia ser "curado" desde que existisse vontade por parte do indivíduo. De fato, trata-se de algo que incomoda.
Jacques Lacan (Livro 20 - Mais, Ainda, p. 37), uma vez, comentou tal incômodo:
"Joguei ano passado com o lapso ortográfico que fiz numa carta endereçada a uma mulher -' jamais saberás o quanto eu tenho te amada '- 'a' em vez de 'o'. Quiseram me apontar depois que aquilo queria talvez dizer que eu era homossexual. Mas o que articulei precisamente no ano passado foi que, 'quando a gente ama, não se trata de sexo'."
Numa série de televisão, os produtores de "Two and Half Men" falaram que o episódio sobre homossexualismo seria um dos preferidos deles, na medida em que lidava com uma questão que incomodaria todos os norte-americanos: ser ou não ser gay.
No episódio, o personagem Charlie Harper, intrigado com a amizade do seu irmão com um divorciado gay, procurou a sua terapeuta e perguntou: "eu poderia ser gay sem saber?" O incômodo era claro. No final do episódio, o seu irmão tentou beijar o divorciado, que disse que ele não era gay. Diante das dúvidas de Alan Harper, o divorciado perguntou: "você sente atração por homem?" Refletindo sobre a sua condição, o irmão de Charlie admitiu a heterossexualidade e ainda ouviu: "it's OK to be straight" (algo como "é correto ser hetero").
Uma frase irônica resumia o debate do episódio. Era defendida, indiretamente, a ideia de que deveria existir liberdade. Portanto, a sexualidade estaria associada ao desejo e não a uma norma social ou a uma época histórica. O fato do personagem que gerou desequilíbrio na família Harper ser um divorciado gay demonstra ainda que essa sexualidade não seria algo pronto e definido. Seria algo em construção, assim como o desenvolvimento do próprio indivíduo.
Isso não significa que alguém deixará necessariamente de ser heterossexual ou não. A palavra chave é o desejo. Afinal, você sente atração por quem? É uma coisa íntima e pessoal, a partir disso, o indivíduo tentará estabelecer uma relação amorosa com o outro.
Em suma, o fundamental não são os rótulos. O que importa é definir a ação com base em três conceitos: amor, desejo e atração. O resultado pode ser aquilo que chamam de felicidade.
CAÇADORES & CAÇADORAS
O macho sai para caçar, cuidando, assim, da sua sobrevivência. Mais do que isso, caçar, inconscientemente, poderia ser percebido como uma afirmação da própria masculinidade. Com a industrialização e a urbanização, caçar animais não fazia mais sentido. No capitalismo, caçar, ou seja, ser útil, passou a ser interpretado como trabalhar. Tradicionalmente, neste contexto, o homem trabalharia e a mulher cuidaria da casa e dos filhos. A masculinidade continuava associada à caça, mas o alvo tornou-se a mulher - não a esposa e sim a "outra". Havia a mulher para casar e as outras. A base do modelo era a virgindade.
Quando a mulher entra no mercado de trabalho, assume direitos políticos e reivindica uma posição de igualdade com o homem, este quadro muda. De "presa", ela torna-se também "caçadora". O mito da virgindade desaparece. A confusão é instalada. O homem fica perdido. A mulher não sabe exatamente o que fazer com a liberdade conquistada, o que explica que algumas tentam repetir as estratégias do homem.
O homem saudosista não consegue mais encontrar a sua "Amélia". Entretanto, ele percebe que se a meta da sua vida deveria ser "caçar", a nova situação era bastante favorável ao seu jogo.
A mulher trabalhava, ia para bares, fumava, bebia, pagava as suas contas e, assim, reivindicava igualdade de direitos. O homem, então, passou a acreditar em outro mito: quanto mais alcoolizada, mais a mulher seria uma "presa" fácil. Portanto, ele sempre poderia ficar com uma diferente toda noite, sem jurar, explicitamente, compromisso. O velho mito que associava a virgindade ao casamento, é interpretado de outra forma: se ela não é virgem, não existe motivo para casar. A canalhice possui uma justificativa.
Do lado da mulher, querer ser como o homem significa entrar num jogo no qual ela é a aprendiz. Ou seja, teria que pagar um alto preço para sair do modelo "dona de casa" e ir para o modelo "independente nos bares". Esse preço tem a ver com os seus desejos de ter filhos e constituir família. Tem a ver ainda com a necessidade de ser desejada pelo homem, que a valoriza no início e a descarta depois.
O casamento ainda existe. O divórcio torna-se mais comum. Os papéis estão confusos nas relações amorosas. Mitos são construídos como se fossem as "novas respostas". No fundo, os problemas são os mesmos: o caos está na condição humana - afetar a relação amorosa seria só a ponta de um iceberg de uma existência que não faz sentido.
PAPO MACHISTA I
As mulheres nos tratam como ratos de laboratório, pois sempre evitamos Discutir a Relação (DR).
Acreditam que basta apertar os botões certos e seguiríamos as suas ordens. Seríamos como fantoches.
Elas elaboram planejamentos sofisticados para atingir objetivos claros (para elas) como monogamia, casamento e filhos.
Se ocorre alguma falha no plano (delas), dizem que "não éramos o que elas esperavam, que, portanto, estariam decepcionadas (aqui nos tratam como adolescentes rebeldes).
Somos observados como "algo em potencial" para realizar alguma coisa, seria necessário utilizar o mecanismo correto - normalmente é o sexo - para ter a sua meta realizada.
Diante deste quadro, ficam chocadas e se sentem vítimas quando simplesmente terminamos a relação.
Sim, ainda seríamos os culpados por "iludi-las" durante tanto tempo.
Dizem que só pensamos em sexo - se for verdade, elas sabem usar isso muito bem (contra nós, claro) - e que não somos sensíveis.
Se reclamamos da vida ou mostramos alguma fragilidade, somos abandonados imediatamente pois elas odeiam "vítimas" e acreditam que deveríamos ser fortes e frios para protegê-las.
Solução? Nenhuma. Podemos apenas sonhar que seria possível viver como o personagem Charlie Harper de "Two and Half Men" e torcer para que, pelo menos uma vez no mês, o programa de domingo não seja almoçar na casa da sogra, tirar uma soneca a tarde e, em seguida, ver Faustão e Fantástico.
PAPO MACHISTA II
Num episódio de Seinfeld, ele e Elaine tentam, sem ser um casal, manter relações sexuais. Não dá certo.
Diante das reclamações de Elaine, Seinfeld pergunta o que ela quer. Ela responde:
"Isso, aquilo e aquela outra coisa também"
É isso. O que uma mulher quer? Simples: ela quer t.u.d.o. e, mesmo assim, reclamará de alguma coisa.
O que fazer? Viver uma relação amorosa é como comprar um pacote completo, ou seja, o que você deseja - a mulher "em si" - não está disponível isoladamente. Existem os cunhados, as sogras, os shows de "ballet", as DRs e as negociações... mas, como uma relação "amorosa" - baseada em sentimento - transformou-se numa competição - um ganha e outro perde?
Quem namorou alguém mais de 2 meses, entende o que quero dizer. Chega um momento em que você faz a pergunta daquela música da Tina Turner: "what's love got to do with it?"
Afinal, depois de um certo tempo, as experiências vividas numa relação podem ter a ver com quase tudo, exceto com o amor. O namoro vira uma empresa, com horários definidos, metas a serem atingidas e punições.
Pela primeira vez, numa relação amorosa (e não no mundo do trabalho), você entende o que Marx e Engels queriam dizer com o "Manifesto do Partido Comunista".
O problema é que você está isolado numa relação desigual (o poder de sedução da mulher é superior). Biologicamente, o seu instinto sexual te transforma em um escravo diante da beleza feminina. Você a deseja mais do que qualquer coisa. Pronto.
"You became a slave to love."
Para finalizar, uma citação que apareceu (claro) na revista Playboy (September 1995, p. 34). A autora é Cynthia Heimel:
"Querido, estou te deixando e serei feminista, e estou levando as crianças comigo e o carro e para você eu deixo pensões altíssimas para cuidar das crianças e você ainda não poderá visitá-las, seu grande idiota, ha ha ha!"*
(*) No original: “Honey, I'm leaving you to find myself and become a feminist, and I'm taking the kids and the car and socking you with tremendous child-support payments and you won't even have visition rights, you big stupid trusting sap, ha ha ha!"
O QUE ACONTECEU COM A MUSA DAQUELE VERÃO?
Na adolescência, qualquer garota fica fascinada com as transformações do seu corpo e, mais ainda, o poder que elas exercem nos homens. Assim, todas as portas se abrem e ela torna-se rapidamente o centro das atenções. Ela quer acreditar que será sempre assim. Mas não será.
Com o passar dos anos, vem a decadência - em várias formas - ou ela, com o poder do dinheiro, torna-se uma "cougar" (mulheres velhas e ricas que se envolvem com rapazes novos), o que não seria diferente do caminho dos homens de meia-idade.
Penso, por exemplo, nas mulheres que foram envolvidas com os Rolling Stones, especialmente com Mick Jagger e Keith Richards. Em 1970, Michele Breton e Anita Pallenberg participaram, com Mick Jagger, do filme "Performance". De acordo com Robert Greenfield, Breton, na época do filme com 17 anos, "cabelo curto e peitos tão grandes que chegam a chocar - junto com Mick e Anita, aparece nua na cena da banheira." Depois de passar décadas como usuária de drogas em vários países, Breton foi encontrada em Berlim em 1995 e disse - ainda de acordo com Greenfield:
"não fiz nada na vida. (...) Onde tudo começou a dar errado? Não consigo me lembrar. É mais ou menos coisa de destino."
Destino ou não, parece que o auge para a mulher acontece só uma vez, na sua juventude. O problema, a partir daí passar a ser a lidar com a vida sem ser o centro das atenções.
O QUE (ALGUNS) HOMENS PENSAM DAS MULHERES
Jerry Seinfeld, uma vez, fez uma brincadeira sobre a reclamação das mulheres de que não existem homens disponíveis: "como? nós estamos em todos os lugares!!" O problema, ele reconhece em seguida, seria que os homens não sabem como chegar e conversar com as mulheres. É verdade.
As mulheres fascinam e exercem um grande poder sobre o sexo oposto. As mulheres são complexas, o que dificulta a situação de qualquer indivíduo. Elas dizem "não", por exemplo, que não quer dizer, necessariamente, "não", pode ser só uma estratégia, um charme. O "não" pode significar "talvez" ou mesmo, se o homem for um pouco inteligente, pode ser, de fato, um "sim".
Como saber? Não existe um manual. Na verdade, cada situação, com cada pessoa, pode mudar tudo. Não existem modelos ou regras. Seria esse o motivo, provavelmente, da atitude masculina machista de sair por aí cantando todas, muitas vezes, de uma maneira óbvia e vulgar, Do ponto de vista do homem, ele pensa: "uma hora pode dar certo." É a velha história: "se ele não for cara de pau, nunca ficará com alguém."
O problema fica mais grave quando a sedução ocorre ao mesmo tempo que as pessoas estão bebendo muitas cervejas ou doses de vodka e whisky. Se for numa boite ou num bar escuro, as coisas ficam mais difíceis. Algumas vezes, ao chegar no local, os homens estabelecem uma hierarquia para a "caça" - desde a mais bonita, a número 1, até aquela que ele, mesmo bêbado, não aceitaria. Claro que com o efeito do [excesso de] álcool, nenhuma teoria poderia se concretizar. Por isso, no final da noite, assistimos cenas deprimentes, tanto para eles como para elas.
A questão não é só a paquera. Aqueles que vivem um relacionamento monogâmico também sofrem para entender os desejos femininos. Aos olhos dos homens, as mulheres nunca estão satisfeitas.
As mulheres gostam de elogios, mas se ficar fácil demais, elas perdem o interesse. Talvez isso explique o sucesso dos chamados "bad boys". Ser um cavalheiro pode ter o efeito oposto à fantasia feminina. Se ele respeita demais, a mulher suspeita que trata-se de um gay. Se for rápido, seria um safado, que faz isso com todas.
Além disto, existem aqueles momentos que os homens não sabem como reagir. Por exemplo, ela começa chorar sem motivo. O que fazer? Seria TPM? Ele teria feito ou dito algo equivocado? Outro coisa seria a famosa DR - Discutir a Relação. Todo homem odeia DR. Faz tudo para fugir de uma. No entanto, raramente consegue. Horas e horas de conversa... O cara pensa: "então, o namoro vai acabar." Claro que não! Pode ser exatamente o contrário... Pode ser um desabafo ou apenas um teste.
Sim, algumas mulheres adoram testar os homens. O objetivo, é difícil dizer, pode ser que elas queiram verificar se eles são fiéis, se estão mentindo, se querem casar ou se elas realmente têm o controle da relação. Muitos se sentem como ratos de laboratório. Basta um olhar da mulher, que ele pára o que está fazendo: "é um sinal... posso fumar? posso beber mais uma? posso jogar futebol com os amigos?" Na dúvida, ele pergunta: "posso?" Ela responde: "você quem sabe." O homem piora a sua situação e para evitar atritos, leia-se DR, deixa de fazer o estava pretendendo.
Talvez as mulheres achem exagerados os exemplos citados. Talvez alguns homens tenham passado por situações semelhantes. Talvez... talvez... Sim, porque não existe uma única resposta que possa satisfazer plenamente um homem e um mulher numa relação. Por isso, muitos mentem, omitem ou fogem de qualquer forma de compromisso.
Contudo, não há como negar: um preciso do outro. Entretanto, qual seria o preço a ser pago para ter uma vida de casal? Será que vale a pena? A minha resposta, pessoal, seria: "eu não faço a mínima ideia."
Eu estive nos três momentos: vida de solteiro, namorando ou casado. Qual seria melhor? Isso, naturalmente, dependerá de cada um.
Viver é lidar com dilemas, dúvidas e problemas. Sozinho ou como casal, a vida não torna-se mais fácil. Trata-se, no final, de uma escolha particular, individual.
O FRACASSO DA RELAÇÃO AMOROSA
Sexo é óbvio e necessário para a preservação das espécies. Sim, somos animais (também). O amor é escolha - consciente ou não. Na civilização, o amor está associado ao poder, é uma relação de destruição e de morte. A relação romântica é impossível de ser realizada. É uma ilusão. É uma fantasia para fugir de si mesmo.
No entanto, como ela é diferente de outras "fugas do ser", como, por exemplo, o trabalho, o consumismo, a política e a religião. Essas últimas são racionais. Trata-se de usar as bobagens do cotidiano como uma espécie de traição do ser. Basicamente, seria a recusa de se ver e se analisar seriamente. O indivíduo olha no espelho e não consegue se ver, como se fosse um vampiro... O que ele não vê é o que ele não tem - uma alma -, é o que ele não é: um "ser". O que ele vê no espelho são os móveis do quarto, as etiquetas das roupas, os sapatos, as joias... Como um fantasma, ele vê o que é material e não percebe que aquilo efetivamente não tem utilidade para ele.
Quanto ao amor, seria uma fuga diferente pois estaria relacionada ao lado emocional. Aqui está o risco de "quebrar o gelo do cotidiano" e de perder o controle das coisas. O risco representa a possibilidade da angústia e ela significa o encontro do indivíduo com ele mesmo. Isso é interessante. O amor não pode ser realizado, não depende da própria pessoa, ao contrário, ela deposita a sua confiança no outro. Viver um romance é depender do outro e é também ter a certeza do fracasso. Então, para quê arriscar?
O sofrimento causado pelo amor pode levar a pessoa a verdadeiramente olhar para ela mesma. Ela não sabe disto. Para a maioria, seria um ato inconsciente. Não importa. Num romance, você arrisca e perde o que mais acredita: a segurança das idiotices repetitivas do cotidiano. Para uma pessoa fria, calculista e consumista, a falta de controle causada pelo fracasso da relação amorosa pode representar um encontro com a sua existência. Nada mal. Se o sexo em si é uma necessidade biológica realizada por qualquer animal, o fracasso do romance entre civilizados não apresenta novidade, mas pode ser uma possibilidade de, com o sofrimento, ir além das aparentes estabilidades proporcionadas pelas fugas inventadas pelos seres autodenominados racionais.
COMO CONQUISTAR AS MULHERES?
Em um artigo publicado na internet - http://www.cracked.com/funny-2607-why-women-love-jerks/ - são apresentados os motivos que levariam as mulheres a ficar com os homens "idiotas" ("jerks"): cocaína, álcool, dinheiro, celebridade, poder, músculos e vingança.
Todos os motivos apresentados estão associados a uma única coisa: ilusão. Essas mulheres imaginam que algo do outro realizaria o seu desejo. O que levaria uma garota ficar com um cara que possui uma Ferrari? O carro não é dela. Ela vai passear no carro, "se mostrar" no carro do outro... É uma ilusão, pois ela poderá fazer isso só enquanto durar a relação com esse homem. Provavelmente, o homem que escolhe andar num carro muito caro e da moda, quer aparecer também e, ao mesmo tempo, usar o seu "objeto de desejo" como "isca" para algumas mulheres viverem suas fantasias. Sim, mulheres no plural, pois dificilmente esse tipo de homem, que fez um investimento tão alto, pensaria em ficar apenas com uma mulher. Ele conta com a ilusão dela para realizar a sua própria fantasia: ficar com todas...
O jovem, algumas vezes, fica indignado: como aquele cara conseguiu ficar com aquela menina (e não com ele)? Primeiro, esse tipo de questão representa um atestado de incompetência. Segundo, pode ser um daqueles motivos citados antes (ou não). Terceiro, pode ser um sentimento verdadeiro ou a garota sentiu-se atraída por algo que o jovem da pergunta não possui (ainda): maturidade, por exemplo.
De fato, essas temáticas têm mais a ver com "a idade mental" do indivíduo do que com a sua certidão de nascimento. Em outras palavras, existem homens com mais de 60 anos que ainda acreditam que o dinheiro pode comprar tudo, inclusive "todas" as mulheres. Ser alienado (e viver de ilusão) não está relacionado à idade. Trata-se de uma escolha de cada um, assim como assumir os atos e evitar colocar a culpa no outro para justificar o próprio fracasso.
MULHERES: TIPOS NO CINEMA
Os filmes reforçam mitos em relação às mulheres. Elas são mostradas de uma maneira, quase sempre, simplista. Existe a vingativa, a neurótica, a dominadora e assim por diante.
Escolhi alguns filmes e fiz observações (pessoais) sobre a personagem principal.
ATRAÇÃO FATAL - Carente e sonhadora, não aceita ter tido um caso com um homem casado e deseja o lugar da esposa. Violenta, perde o controle e deseja vingança. O homem infiel - que causou toda a crise - torna-se "vítima" de uma mulher perturbada.
CORPOS ARDENTES - Traí o marido e engana o amante. Fria, consegue o seu objetivo.
BRIGDE JONES - Parece uma mulher comum, meio neurótica, preocupada com o peso, insegura, cujo meta seria encontrar o parceiro ideal.
GUERRA DOS ROSES - Trata-se de uma mulher em crise no casamento e como o que era amor torna-se ódio.
INSTINTO SELVAGEM - Sexy e assassina. Fica com homem, com mulher, cheira cocaína. É escritora. Manipula todos.
LIGAÇÕES PERIGOSAS - Manipula, usa as pessoas como se fossem objetos. É fria. Está interessada só no poder. Fracassa nas suas intenções, mas não muda.
LUA DE FEL - Sexy e vingativa.
NOVE SEMANAS & MEIA DE AMOR - Sexy e carente, ela representa o que todo homem deseja. Está disposta a fazer quase tudo pela paixão.
PERDAS E DANOS - Um trauma familiar a transforma num mulher interessante, complexa, demonstrando, ao mesmo tempo, fragilidade, inteligência e força em seu envolvimento com pai e filho.
SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPE - É uma mulher tipo "Amélia", ingênua, confia no marido, que a traí com a sua irmã.
SWORDFISH - A SENHA - Garota má. Sexy, inteligente e vilã. Livro e sol: a cena do topless sintetiza o seu perfil.
ZANDALEE - Corre para gastar a energia que sobra de um casamento frustrado. Ama o marido, mas o traí com o amigo. Uma tragédia que reforça o sentimento de culpa.
MULHERES DE 30 E HOMENS DE 50 ANOS
No primeiro episódio de "Sex and The City", a personagem principal - Carrie - pergunta: por que existem tantas mulheres maravilhosas solteiras e não existem tanto homens assim? Talvez entre os 15 e 20 anos, a mulher viva seu "auge" no ponto de vista da beleza e da atração em relação aos homens. Lolita é um dos livros que trata do tema: o fascínio que uma adolescente desperta no homem.
Antigamente, com os 15 anos, a menina era apresentada à sociedade em um baile de debutantes. A preocupação da moça era arrumar um bom casamento. As mulheres de "Sex and The City" sonham com isso também, com a diferença que são mais velhas, críticas e independentes do ponto de vista financeiro. A escolha pela carreira profissional dificultaria a realização do sonho do casamento?
Talvez exista muita expectativa em relação ao papel do homem, tradicionalmente apresentado como "um príncipe encantado"... Sobre este tema, a atriz Marília Pêra disse, uma vez, em uma entrevista:
"Ele transa bem? Leva você para comer bons queijos e vinhos? É seu amigo? Então fica com ele. É o máximo que você vai conseguir de um homem."
Os homens passam pela crise da meia-idade, quando chegam aos 50 anos. Querem, de certa forma, fazer o impossível: recuperar a juventude. Assim, compram carros esportes, frequentam academias, namoram mulheres jovens e, atualmente, contam com o Viagra como aliado. Claro que nada disso resolve o inadiável: a velhice... e em seguida, a morte.
As mulheres são lembradas aos 30 anos. Mário Prata, numa crônica na revista Época (Edição 298), cita Balzac - "uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido" e conclui: "são fortes as mulheres de 30. E não têm pressa para nada. Sabem aonde vão chegar. E sempre chegam."
Os elogios, contudo, não resolvem o essencial: a crise aos 30, para as mulheres, ou aos 50 anos, para os homens. Certamente, os problemas graves de dúvidas pessoais não acontecem apenas nestes momentos. A vida é marcada por dilemas e, como diria Freud, por neuroses. Só não percebe quem é alienado, quem insiste acreditar em fantasias, deixando a realidade de lado. Lembra, claro, o filme Matrix: o indivíduo escolhe entre a pílula azul, a ilusão colorida, ou a pílula vermelha, o real, aquilo que está além das aparências. O real está associado também ao sofrimento. A dor faz parte da vida. As crises existem e pronto. A questão é saber se o indivíduo consegue percebê-las ou não. O mito da caverna de Platão permanece.
CRÍTICAS
Alguém já disse que o crítico é um artista frustrado. Pense. Quem seria mais importante: o crítico de literatura ou o autor da obra?
Antes de escrever textos opinativos (desde 2010), os meus principais trabalhos foram aprovados por duas bancas, uma no mestrado e outra no doutorado. Pesquisei e publiquei livros e artigos.
Tenho a impressão, algumas vezes, que certas pessoas passam boa parte do tempo na Internet só para falar mal de tudo que aparece na tela do computador. Sem dúvida, criticar é mais fácil do que produzir.
Não sou contra cada um expressar a sua opinião, pelo contrário, basta ver a quantidade de blogs que possuo. O problema é que essas pessoas insistem em destacar só o lado negativo de tudo. Parecem ser frustradas por não terem produzido algo relevante ou realizado algum projeto pessoal. Assim, acreditam que tornam-se importantes falando mal de tudo e de todos. A imagem que fica, não percebem, é o exatamente a oposta do que gostariam.
Posso estar errado, mas antes de criticar publicamente uma obra, procurei pesquisar e sistematizar as minhas próprias ideias. Os meus livros e artigos são públicos, estão por aí para serem lidos e criticados.